Autoridade
Participei de um diálogo criativo sobre a questão da pertinência do exercício da autoridade em nossa sociedade. A legitimidade da autoridade na pós-modernidade, onde tudo flui, em uma velocidade nunca antes vista pela humanidade. Reflexão esta que por si só, suscita diferentes e acaloradas opiniões.
Penso que há uma certa confusão em relação a esse tema, tornando-o um dos maiores desafios para todos nós, professores, pais e sociedade em geral. A pergunta é como exercer a autoridade sem ser autoritário? Para buscar resposta a esse paradoxo é imprescindível compreender que a autoridade é necessária para o exercício da liberdade. Segundo Santo Agostinho, muitas vezes ser livre é fazer o que não quer, pois quem faz tudo o que deseja é escravo de seu orgulho.
A questão central dessa reflexão é que precisamos ir além da dicotomia, autoritarismo e licenciosidade (imprudência), pois ambos são vícios. Uma das mais interessantes ideias do filósofo inglês do século passado G. K. Chesterton é a afirmativa de que “o vício não é mais do que uma virtude enlouquecida”. Portanto, o autoritarismo, como a licenciosidade é oriundo de virtudes enlouquecidas, totalmente opostas ao verdadeiro sentido da práxis da autoridade.
Podemos do ponto de vista da fé afirmar que o autoritarismo como a licenciosidade são pecados, pois segundo o pensador católico Alceu Amoroso Lima, o pecado é uma deficiência ou um excesso que nos faz perder o senso de verdade que existe em cada um de nós. Nesse contexto de reflexão, podemos recorrer ainda a Amoroso Lima que demonstra, de forma cristalina e precisa, que educar não é impor um modelo, mas, propor uma formação: “É estimular e orientar uma virtualidade para que se converta em virtude”.
Tanto no autoritarismo como na licenciosidade não há liberdade, já que no primeiro tem repressão, intolerância, ódio e no segundo tem a bagunça e confusão. Ambos destroem o que temos de essencial em nossa natureza humana, ou seja, o senso do cuidado, a razão e a própria liberdade. A vida do ser humano, devido a sua essência acima citada, a cada instante pode ser infinitamente diferente do que é. Por essa razão ela não é pura biologia, mas sonho, amor, arte e ética.
Aquele educador, em geral que renuncia a autoridade deixa de ser educador. Nas sábias palavras do grande educador e escritor Paulo Freire, “se a autoridade renuncia a si mesmo, a liberdade não se constitui como tal”.
Em vários momentos da prática educacional, é necessário segundo Paulo Freire dizer não, mas para ele é essencial fundamentar esse não, dizer o porquê desse não. Caso contrário podemos desmoralizar nosso próprio papel de educador. Por amor aos nossos alunos, aos nossos filhos temos que em vários momentos dizer não e fundamentar esse não.
O exercício da autoridade em sua essência de respeito à autonomia é uma missão a que todos somos chamados. Desafio a ser vivenciado em uma sociedade onde o oportunismo e até mesmo a psicopatia, constantemente, tentam se estabelecer entre nós, através das fakes News e de dissimulados discursos e posturas.
Roberto Camilo Órfão Morais