sábado, 23 de novembro de 2024

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“CORAGEM”, texto de Roberto Camilo Órfão, sobre o presente e o futuro

CORAGEM

Iniciar o ano com tantos desafios, em um país que muitos não têm medo do vírus, mas tem medo da vacina, com índice crescente de feminicídio, resta buscar uma das virtudes centrais do ser humano, a Coragem. Relembro o profeta Dom Paulo Evaristo Arns, com seu lema episcopal: “Ex Spe in Spem”. Ou seja: “de Esperança em Esperança, Coragem”!, proclamava o Cardeal!

A Esperança subentende acreditar, como escreveu o grande poeta Thiago de Mello: “Faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai chegar”. Já a Coragem não se refere apenas ao amanhã, mas, principalmente, ao presente; por isso, é patético querer ser corajoso no futuro.

A Esperança, segundo André Comte-Sponville, é uma virtude para os crentes, ao passo que a Coragem o é para qualquer pessoa. Pode-se perguntar sobre o que é necessário para ser corajoso, basta ter vontade, que por sua vez não deve ser confundida com força.

Para o filósofo Emmanuel Kant, vontade pressupõe uma deliberação da razão, distinta dos desejos, soberana em relação a eles.

O problema é que a coragem pode servir tanto para o bem como para o mal. O negacionista, obscurantista corajoso, sempre será um negacionista obscurantista…  um assassino que tem a coragem de matar a ex- esposa na frente dos filhos, sempre será um assassino.

Muitos genocidas de plantão, se fossem um pouco mais covardes, estariam prejudicando um pouco menos as pessoas. A Coragem só se torna uma virtude (capacidade de fazer o bem), quando se põe a serviço do próximo, com respeito à vida e rompe com o excesso de amor próprio.

Quando vejo a coragem dos profissionais da saúde que estão à frente do combate ao COVID 19, medito a afirmativa de Aristóteles:  “As pessoas corajosas só agem pela beleza do gesto corajoso”. Portanto, é belo a coragem de tantos heróis anônimos espalhados no Brasil e no mundo.

Enquanto indivíduos, a tragédia provocada por essa pandemia não é nossa culpa, mas, como pensamos e a enfrentamos é nossa responsabilidade. E, aí, temos que ter amor à vida, temos que ter Coragem.

Em tempos que o discernimento está ausente daqueles que deveriam dar exemplo de Coragem (virtude), quando vejo ódio e mentiras nas redes sociais, leio com gratidão o poema “Invictus”, de autoria do poeta inglês William Ernest Henley (1849-1903), que inclusive inspirou Nelson Mandela:

“Da noite escura que me cobre
Como uma cova de lado a lado
Agradeço a todos os deuses
A minha alma invencível.

Nas garras ardis das circunstâncias
Não titubei e sequer chorei.
Sob os golpes do infortúnio
Minha cabeça sangra, ainda erguida.

Além deste vale de ira e lágrimas
Assoma-se o horror das sombras
E apesar dos anos ameaçadores
Encontram-me sempre destemido.

Não importa quão estreita a passagem
Quantas punições ainda sofrerei,

Sou o senhor do meu destino

E o condutor da minha alma”.

 

Roberto Camilo Órfão Morais