Terra: moradia certa…
Acuidades, no eterno desejo de retornar!
O cuidado para com a saúde mental é uma das ferramentas mais precisas que o nosso cérebro necessita. Isto porque, pós-confinamento, devido ao desequilíbrio ambiental – produzidos por nós mesmos, ditos “seres humanos”, agora nos apreendemos no distanciamento. Minha acuidade ao iniciar essa reflexão, justamente acontece no momento exato em que os sinos do Santuário ecoam seus acordes das 12 horas para à vida. Momento singelo, relembrando o silêncio aprendiz de uma pequena-grande jovem, há mais de dois milênios, ao dizer “SIM” à Criação de todo ecossistema. Que ironia pelo nosso não cuidado com a Gaia: aproximarmo-nos num distanciamento. Necessidade em lapidar a agudeza, a finura, a sutileza, como os acordes dos sinos, que rompem os silêncios de nossas omissões.
Rubem Alves, inspirado por Fernando Pessoa, nos ‘cutucou’: “se todo cais é uma saudade de pedra”… – “todo sino é uma saudade de bronze”. Bronze, mistura de cobre e estanho, minério da Mãe Terra, metal flexível e não tão duro, capaz de grande ousadia: romper o silêncio e nos acordar (flexibilidade). Disto decorre que “saudade”, coisa gostosa de vivenciar, é para onde nossa alma quer voltar e, essa pandemia nos dá, esse gostoso desejo estranho de reencontrar o útero de nossa existência cósmica, pela ação suprema de um Criador, voltar para a Mãe Terra – a Gaia. Remota-me à lembrança, porém salutar, às minhas sinapses positivas que, quando participava do sepultamento de minha mãe, uma doce paz envolveu meu coração quando, disse para uma querida tia: “estou entregando minha Mãe Útero para a Mãe Terra”.
Gilberto Gil e Jorge Mautner, no álbum “Gil – Gilberto em Concerto – 1987”, como introito para a música “Só chamei porque te amo”, coloca-nos na acuidade audível, com a belíssima interpretação de Mautner no poema de Vladimir Maiakovski: “os demais todo mundo sabe, o coração tem moradia certa, fica bem no meio do peito, mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração!” Que maravilha, esse poema, inspirado em Nietzsche na obra “Humano, demasiadamente Humano!”. Então porque não compreendermos que somos o principal ser vivente do ecossistema?
Desta feita, a importância para a formação de nossas crianças, adolescentes e jovens, quanto ao trato do “cuidado com a Gaia”, eloquentemente destacado por Leonardo Boff na obra “Saber Cuidar – ética do humano/compaixão pela Terra, Vozes, 1997.” – nos conduz à ‘instropectar’ em como temos agido na nossa ‘autoformação’, na construção relacional, ao exemplo que devemos primar na formação das gerações futuras, em não cometer os nossos mesmos erros, para com o ecossistema?
Como conviver com tanto ruído e desmazelo quanto à depreciação da biosfera? Como aprimorar a troca de saberes e afiar a pontaria das nossas buscas na veloz e turbulenta revolução digital? Simples: acuidade auditiva, sentindo os sons da natureza, como os do bronze dos sinos do Santuário!…
Alexandre da Fonseca
Neuropedagogo, graduado em Filosofia e Pedagogia. Coordenador de Programas Sociais da Associação Ambiental Cultivar. Professor Mediador do Curso EaD-Pedagogia e Projeto Alvorada (Instituto Federal-Campus Machado).