Prudência
A afirmativa de São Francisco de Sales de que, “Se és santo, reza; se és douto, ensina; se és prudente, governa”, suscita entre muitas reflexões, a da pertinência da Prudência, principalmente em tempos tão desafiadores como o nosso.
É relevante reconhecer que a Prudência é empregada de forma errônea, como sendo sinônimo de timidez, medo, enfim algo negativo em nossas vidas, porém juntamente com a Temperança, a Coragem e a Justiça ela compõe as quatro virtudes consideradas cardeais. São Tomás de Aquino afirmou que das quatro virtudes cardeais, a prudência deve ser a regente. Segundo Alceu Amoroso Lima, a Prudência é aplicação dos princípios aos fatos, isto é do geral ao particular, é uma virtude operativa e dinâmica. A Prudência é a moral aplicada, é o saber governar tanto pessoal como no coletivo, visando ao bem fluir da vida.
A Prudência para os antigos Gregos (phronésis) e Romanos (prudentia) consistia no que era necessário escolher ou evitar. Por exemplo, Epicuro, filósofo do período helenístico, defendia o prazer como sendo o maior dos bens da vida, mas pregava prudência em relação a ele. Criou inclusive uma escala de prazeres capaz de educar o homem a respeito do que deve ser ou não desejado. Para Aristóteles, a Prudência é uma virtude intelectual, por estar ligada ao conhecimento, é a disposição que permite deliberar corretamente sobre o que é bom ou o que é mau.
Penso que uma das causas da crise que estamos atravessando nesse início de século é a dissociação entre princípio e a Prudência, que leva inclusive ao fundamentalismo, fanatismo. A defesa de um princípio, pode levar a um flagelo caso ocorra ausência da Prudência, pois ela é exatamente a justa medida. Prudência é ter sapiência em aplicar princípios em nossas vidas.
Estamos assistindo no Brasil à defesa exacerbada de princípios, mas dissociados da Prudência, tendo como resultado a destruição de conquistas civilizatórias, proporcionando um contexto de barbárie, em clima de ódio, preconceito, inclusive de descontrole da pandemia do COVID 19, que já levou à morte mais de 180 mil brasileiros.
A Prudência traz em seu bojo a Ética da responsabilidade, onde todas as pessoas, inclusive os governantes, devem responder pelas consequências dos seus princípios e atos, afinal ela pressupõe saber escolher, decidir da melhor maneira possível.
Roberto Camilo Órfão Morais, ex-prefeito de Machado e professor do IFSuldeminas.
Texto publicado originalmente no jornal FOLHA MACHADENSE, na edição do dia 19/12/2020,