A Praça Antônio Carlos, no centro de Machado, recebeu na manhã deste sábado, dia 26, manifestação silenciosa em apoio ao Governo Federal. Semana passada, a FOLHA enfocou movimento contrário, que cobrava vacinação em massa e afixou cruzes no canteiro central. – Hoje, sábado, a FOLHA MACHADENSE, em sua versão impressa, publica Editorial que propõe reflexão sobre política, respeito e tolerância.
EDITORIAL – Texto publicado neste sábado, dia 26/06, na versão impressa do jornal FOLHA MACHADENSE.
Os amigos virtuais e os amigos reais
Edelson Borges
Diretor da FOLHA
Independente do posicionamento político de cada leitor, uma coisa é certa: parte dos brasileiros está perdendo o senso de justiça, de respeito, de pudor, de princípios básicos da convivência em sociedade. E, as divergências políticas, principalmente, têm escancarado as mais perversas faces do ser humano.
Sábado passado, durante manifestações pelas mortes da COVID-19, mundo afora, em Machado, 71 cruzes foram afixadas no canteiro central da Praça Antônio Carlos. Os debates extrapolaram a razoabilidade, nas redes sociais, e, à noite, um homem foi à Praça Central pisoteou as cruzes em homenagem aos mortos e arrancou uma faixa que havia sido afixada no local. – O protesto silencioso, seja de quem quer que seja, tinha o conhecimento da Prefeitura. E, todos, independentemente, têm o direito de se manifestar; seja por que causa for.
Machado ganhou destaque nacional em emissoras de televisão, sites de notícias, jornais e blogs no quesito intolerância. Muito ruim para a imagem de uma sociedade que busca a igualdade.
Infelizmente, o brasileiro perde horas a fio em redes sociais, participando de debates fúteis e estapafúrdios e promovendo o mal. – Ah, se o mesmo tempo fosse dedicado à família, às pessoas à sua volta, a Deus…!
Parte dos brasileiros e dos machadenses estão preocupados com a quantidade de cliques, de views e de compartilhamentos de postagens. Pouco importa se são verdadeiros ou mentirosos os fatos, o que importa, no mundo digital, é o impulsionamento. E, dentro desta ótica, vale tentar destruir carreiras, reputações e marcas. – Machado tem acompanhado isso nos últimos tempos. É o novo normal, para alguns.
Meu Compadre Renato Nery, morto esta semana, em decorrência dos efeitos causados pela COVID-19, era um sujeito alheio a tudo isso. Não se preocupava com redes sociais. Ocupava seu tempo em promover o bem. Pai de duas filhas maravilhosas e uma esposa dedicada, Renato Nery tocava uma pequena propriedade rural da família; trabalhou em escolas públicas da cidade, como auxiliar de serviços gerais e era pedreiro. Antes da pandemia, tinha o sonho de ir para os Estados Unidos da América para dar uma vida melhor à família.
Renato não era de mandar mensagem; preferia telefonar. Não era de mandar abraços; preferia fazê-lo pessoalmente. Não tinha amigos virtuais ou milhões de seguidores; mantinha poucas, mas, sinceras amizades.
Carinhoso com os irmãos e com os colegas da Rua Caldas, tive o privilégio de conviver com Renato Nery. Era de dentro da casa dele e ele da minha. Amizade desinteressada, verdadeira, cristalina. Ele Flamenguista; eu, Cruzeirense. – Mesmo quando nossas equipes eram adversárias em campo, assistíamos jogos, juntos. No futebol, como na vida, a gente ganha ou perde. Dificilmente, empata. Faz parte do jogo. – Por isso, precisariam ser estudadas, psicologicamente, as pessoas que brigam quando o Clube do Coração perde uma partida. No futebol, só três resultados podem ocorrer.
Futebol, política, religião… tudo pode ser discutido e conversado, desde que, exista respeito pela posição do outro. Pastor Isaías Garcia e Cônego Walter Maria Pulcinelli eram assim: dois líderes religiosos que se respeitavam. Chegaram, inclusive, em ocasiões especiais, a participarem das comemorações de datas importantes na vida de ambos; um frequentando o templo do outro. Isso é respeito, adjetivo em desuso, infelizmente, na vida de alguns!
Às famílias de Renato Nery e Irineu Júnior, além de tantos outros lares que a COVID-19 tem destruído e a ‘politicagem’ afastado, as nossas condolências.
EDELSON BORGES DA SILVA
Diretor da FOLHA