Paciência
Roberto Camilo Órfão Morais
Em tempos de ansiedade e intolerância a virtude da paciência é recorrente, pois contribui para superação dos conflitos presentes na sociedade. Ela é a arte de saber suportar os desafios impostos pela vida; ao mesmo tempo, saber lidar e cuidar das pessoas.
Para a Filosofia Estoica, surgida na Grécia no Séc. III a.C., figurada também como uma escola romana, o ideal ético era a ‘ataraxia’, o estado de harmonia corporal, moral e espiritual que, se atingia através da apatia, em latim ‘Patior’, origem da palavra ‘Patientia’, de onde deriva a palavra paciência.
Portanto, a paciência, para os estoicos, é o caminho para se atingir a felicidade, a tranquilidade; pois que, ela é sinônimo de moderação, de deixar fluir a existência. Segundo o estoico Sêneca, “o homem que sofre antes de ser necessário sofre mais que o necessário”.
Através da paciência, que nos auxilia em compreender as vicissitudes do existir é que, podemos praticar a afirmativa do Imperador romano, o filósofo Marco Aurélio: “Seja como o penhasco contra o qual as ondas batem, permaneça firme e dome a fúria da água ao redor”.
A tradição judaica cristã apresenta um Deus paciente e misericordioso. Em várias passagens da Bíblia, a paciência é recomendada por contribuir para convivência pacífica. Por exemplo, na literatura sapiencial, a paciência é uma norma a ser seguida, como em Provérbios 15,18; “Homem colérico provoca disputas; homem paciente acalma as brigas”.
O ensinamento bíblico propõe que o homem pratique a paciência para com seu semelhante, Efésios 4,1; “Eu, prisioneiro no Senhor, vos exorto a levardes uma vida digna de vocação que recebestes com toda humildade e mansidão, e com paciência, suportai-vos uns aos outros no amor”; ou, em Gálatas 5,22, onde se afirma que a força de ser paciente é dada por Deus: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si. Contra essas coisas não existe lei”.
O professor Mário Sérgio Cortella, no livro “Pensar bem nos faz bem”, alerta que não podemos confundir paciência com lerdeza. Para ele, paciência é a capacidade de deixar maturar, de perceber, de dar o tempo que aquilo precisa para acontecer. A lerdeza é passividade, incapacidade de se movimentar. A paciência, como já foi citada, é uma virtude e, a lerdeza, um vício.
Em muitos diálogos criativos que tive com o Cônego Walter, em um deles, revelou que logo que assumiu a paróquia em Machado, procurou se aconselhar com sua mãe sobre como lidar com os paroquianos. Ela, na beira do fogão, recomendou a ele: “paciência, paciência, paciência”. Acredito que ele tenha vivenciado esse conselho, pois viveu mais de 60 anos entre nós, como pároco, deixando muitas e boas lembranças.