O PACIENTE E A DEMOCRACIA
Assistindo ao filme “O Paciente: o caso Tancredo Neves”, dirigido por Sérgio Rezende, que a partir de cópia do prontuário médico de Tancredo relata o drama que levou à morte, o ex-presidente [eleito, mas não empossado], chegamos a algumas reflexões. – Entre elas, que fora assustadora a sucessão de erros médicos e a falta de estrutura do Hospital de Base, em Brasília (DF).
Leva-nos à percepção que “O Paciente” não é um filme político e, sim, um drama médico, que nos faz reviver um momento marcante da história recente de nosso país. O processo cinematográfico nos faz relembrar a inevitável comparação com o momento atual da política brasileira.
Apesar de todas as contradições e erros [não foram poucos], advindos com a chamada “Nova República”, é indiscutível que naquele momento ocorreu, no Brasil, uma união em torno de um sonho: o de se construir um projeto Nacional. – Diferente do que estamos assistindo nos dias atuais, com a existência de um discurso de negação da política, que traz em seu cerne a divisão e o crescimento de um vírus de ódio e de preconceito.
Expressões como: “cidadão não, engenheiro civil”!; ou, a total indiferença diante das mortes provocadas pela pandemia do COVID-19 – “e, daí?”, são ilustrações tristes do momento atual.
Paralelamente, estamos observando as primeiras movimentações das eleições municipais a serem realizadas em novembro deste ano. E, pelos primeiros sinais visualizados nas redes sociais, observa-se o aprofundamento do ódio.
Disseminação de desinformação através das ‘fake news’, como afirma o relator da ONU para Liberdade de Expressão, David Kaye, são realizadas por “motivos estratégicos”, que representam uma “agressão à Democracia”.
Que seja aberto um debate a partir das reflexões que esse filme nos proporciona, para que possamos, por meio do exercício pleno da cidadania ativa, romper com essa noite escura – e, que haja um novo amanhecer, de crença e de harmonia em torno de um projeto Municipal e Nacional.
Precisamos acreditar na Democracia, ainda que, apesar dos defeitos, é o que de melhor foi inventado pela humanidade. Quando se nega o exercício da Democracia, em sua prática política, surgem o que há de pior: os ditadores.
A vida me ensinou que regime democrático não é um meio para se atingir o objetivo. É um fim, em si mesmo, que consiste na confiança nos métodos de liberdade. O resultado disto é a preservação da própria Liberdade.
Roberto Camilo Órfão Morais
Professor de História do IFSULDEMINAS. Ex-prefeito de Machado