Guerra das narrativas
Eduardo Tardiole
Nunca a expressão “vale mais o que se faz do que se fala” esteve com tão baixo valor real como agora. A forma de se fazer política dos últimos anos privilegiou a guerra de narrativas e excluiu as ações como meio de se conquistar a confiança dos eleitores.
É um fenômeno mundial e podemos confirmar isso utilizando o presidente dos Estados Unidos como exemplo. Desde o início da pandemia do Covid-19 ele tem se posicionado contrário à ciência, tratando o problema de saúde como algo menor. Recentemente, acometido pelas consequências da infecção do coronavírus, Donald Trump modifica seu discurso e passa a dizer que a doença teria sido uma “benção de Deus em sua vida”.
No Brasil, também temos um bom exemplo a utilizarmos para reafirmar a tese de que as narrativas valem mais que as ações. Nas eleições de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro havia se abraçado ao propósito de combater a corrupção no Brasil. Se uniu ao ícone Sérgio Moro e se comprometeu, verbalmente, em apoiar a operação Lava-Jato na luta contra os crimes de corrupção envolvendo políticos e empresários.
Depois da vitória para presidente do país, conquistando o apoio de um povo que sofre as consequências da corrupção há séculos, não apenas dispensou os préstimos do ministro Sérgio Moro, antes com carta branca para atuar contra a corrupção, mas também afirmou na última quarta-feira, dia 07 de outubro: “eu acabei com a Lava-Jato, pois não há mais corrupção no Governo”. Sendo assim, confiando na narrativa do chefe da nação, vivemos em um país que baniu a corrupção de suas entranhas. Viva!!!
Da mesma forma, em Machado, a corrida eleitoral de 2020 para os cargos de vereador e prefeito (a) aplicam a estratégia da guerra de narrativas para promover os candidatos ou atacar os concorrentes.
O primeiro debate e as publicidades feitas em decorrência dele, teve a predominância das afirmativas dos candidatos e ou dos seus apoiadores em se auto intitularem os donos e propagadores da verdade, das campanhas propositivas e da política sem ataques aos adversários.
Contudo, diferente do que se prega, o que fazem em suas campanhas, dia sim e outro também, é buscar desqualificar os adversários, usar cabos eleitorais e simpatizantes para espalharem ataques diretos ou indiretos contra os alvos escolhidos.
A guerra de narrativas se tornou estratégia política. Vale a lógica de vencer quem fala mais, mais alto e a mais pessoas. As redes sociais potencializaram tal mecanismo de se fazer política. A violência em forma de palavras e acusações on ou off line tornou-se recorrente em grupos de Facebook ou WhatsApp.
Ao final das eleições em Machado, apenas 15 indivíduos terão obtido a vitória (1 Prefeito(a), 1 vice-prefeito e 13 vereadores(as)). No entanto, milhares de cidadãos terão perdido, já que a guerra de narrativas não faz bem à democracia. Ao contrário, corrói as suas estruturas, já que ataca o que lhe é mais valioso: a credibilidade da política!
- Eduardo F. Tardiole. Membro do Movimento Politize. Aluno formado Renova BR. Presidente do Comitê Ação da Cidadania. Artigo publicado no jornal FOLHA MACHADENSE, sábado, dia 10/10/2020.