A Ciência da Cruz
Roberto Camilo Órfão Morais
Nove de agosto, dia dedicado à Santa Teresa Benedita da Cruz, filósofa polonesa de origem judaica, Edith Stein, referência para as ‘vítimas da intolerância’. Filósofa que trilhou o caminho da Fenomenologia, e elaborou uma extraordinária reflexão sobre ‘o Ser Finito e o Ser Eterno’. Em 1921, com a leitura da autobiografia de Santa Teresa d’Ávila, se converteu à Igreja Católica, mas jamais negou sua pertença ao Povo Judeu e, jamais fez proselitismo junto aos seus, como escreveu; era lhe impossível crer que “a graça divina pudesse restringir-se à Igreja”.
Em sua conversão afirma que, “o caminho da fé leva-nos mais longe que o do conhecimento filosófico: ao Deus Pessoal e Próximo, àquele que é o Todo Amante, o Misericordioso”. Em 1933 entra no Carmelo, algo estranho para nós que vivemos em um cotidiano consumista, e nos ensina que: “Mística é uma realidade misteriosa, que ultrapassa tudo que é natural”. No silêncio primordial da clausura, seguiu com indignação os acontecimentos de seu tempo, como à ascensão do Nazismo e Fascismo (os quais ressurgem em dias atuais, numa onda de ódio e preconceito).
Em seus escritos, mostrou-se preocupada com o destino de seu povo, vivendo intimamente ao que chamou de “a ciência da cruz”. Em 1942 os oficiais nazistas invadem o Carmelo e prendem-na. No momento da prisão, ouviram-na dizer à sua Irmã Rosa: “Vem, vamos ao holocausto por nosso povo!”. Aos 09 dias de agosto de 1942, em Auschwitz (Polônia), juntamente com sua irmã foram mortas na câmara de gás.
O que chama atenção em seu pensamento, é que, no geral, a reflexão sobre o sofrimento nos leva, à maioria dos casos, em filósofos que propõem à superação através da racionalização, até mesmo sua negação. Já em, Edith Stein encontramos uma reflexão inversa, sobre o seu significado, destacado como “Ciência da Cruz”; nada mais é do que, a sabedoria que nasce do sofrimento. Não se trata de uma defesa, nem uma resignação à dor; mas sim, assumir a vida no que ela nos proporciona e, ao mesmo tempo, a busca de uma transcendência. Transcendência essa, diferenciada da ‘Prosperidade’, em sua perversa mercantilização da fé. Se “a cruz não é um fim em si. Ela surge e, indica o caminho do alto”; consideremos, portanto, que, o que importa é a vida!
É a loucura da Cruz (1Cor. 1:18) que, continua em escandalizar uma humanidade carente de sentido, de finalidade, como descreve a autora aqui citada: “ainda hoje a estrela de Belém é uma estrela na noite escura”.
No momento em que a “gripezinha”, atinge 100 mil mortes, mergulhando a nação em um oceano de sofrimento, talvez buscar Edith Stein como referência, nos fortaleça como uma “rocha” (“Stein”, em alemão). Em tempos sombrios, de fake news, de banalidade do mal, é agradável ler, a afirmativa: “Nosso amor por Deus está na medida de nosso amor pelos outros”. Defender a vida de todo o mundo, pois o mundo é de todos: “a essência do amor é, a doação total de si ”.