Simplicidade
Cercados pela tragédia que já ceifou no Brasil mais de 350 mil vidas, assistindo pelas mídias/redes sociais as investigações que revelam a barbárie, o assassinato de uma criança de 04 anos, podemos constatar que a humanidade já perdeu, há muito, sua inocência.
Mergulhada na banalidade do mal, onde a máxima de René Descartes – “Penso, logo existo!”, foi substituída pelo: “apareço, logo existo”!
Temos visualizado a hipocrisia daqueles que, em público, se autoproclamam homens e mulheres de bem, mas na escuridão de suas masmorras existenciais, exercem as mais sórdidas práticas de desrespeito à dignidade e valores éticos. “Humano, demasiado Humano”, diria Friedrich Nietzsche.
Diante desse cenário de dor e indignação, tenho encontrado na virtude da Simplicidade um excelente antídoto, pois, essa virtude contraria a superficialidade, o hedonismo e intolerância do momento.
Refletindo, percebemos com facilidade a oposição entre Simplicidade e atitudes como soberba, ira, luxúria, vaidade. Atitudes mesquinhas combatidas na história por aquele “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”, o Cristo que, na simplicidade, assumiu plenamente a natureza humana para restituir o Bem e a Verdade.
Deus é a simplicidade Absoluta, por isso, nossa limitação em entendê-lo.
Mas como podemos definir a Simplicidade e porque ela é um excelente antídoto contra banalidade do mal?
Simplicidade não deve ser confundida com simploriedade, pois, a pessoa simples não é desprovida da capacidade de elaborar, de questionar.
Inteligência não é sinônimo esnobismo, arrogância, pelo contrário, ela é sinônimo de humildade, que vêm de húmus: fertilidade.
A realidade das coisas da vida se mostram complexas e simples, como afirma Goethe: “Tudo é mais simples do que podemos imaginar e, ao mesmo tempo, mais intricado do que poderíamos conceber”.
A Simplicidade está expressa nos versos do poeta e místico Ângelus Silesius: “A rosa não tem porquê, floresce porque floresce; não se preocupa consigo, não deseja ser vista”.
Simplicidade é sinônimo de bom senso, é competência e habilidade na arte de traduzir o mais incompreensível ao mais simples. Basta observar que o conhecimento está na clareza das ideias e não na obscuridade.
Simplicidade é Graça, sabedoria dos Santos, sempre generosa, como demonstra São Francisco de Assis; o “Primeiro depois do Único”, ao vivenciar no século XIII, de forma intuitiva, o que a mais refinada ciência apresenta, ou seja, todo o universo está interligado: somos todos irmãos e irmãs, no suave e belo “Canto das Criaturas”!
Portanto, a Simplicidade é a virtude das virtudes, sem ela, segundo André Sponville, a humildade seria expressão pernóstica; a coragem exibicionista.
A Simplicidade é um modo de ser e agir, que tem por essência a alegria, espontaneidade e frescor. Ela é o caminhar sereno e leve de amor, onde podemos dizer sim e amém às belezas da Vida!
Roberto Camilo Órfão Morais