O casal Maritain
Artigo dedicado ao saudoso prof. Anselmo Vieito, Mestre e irmão na Fé
Vivemos uma onda de intolerância, até mesmo de destruição de valores éticos e democráticos. Assistimos a um surpreendente avanço de ideias totalitárias que julgávamos sepultadas pela história. Até mesmo no interior da própria Igreja, alguns se julgam mais católicos do que o próprio Papa, semeando discórdia, divisões entre a comunidade de fiéis: basta observarmos as destemperadas reações contra a Campanha da Fraternidade deste ano.
Diante dessa conjuntura, há que se considerar uma excelente referência, a vida de dois grandes filósofos católicos do século passado, o casal Jacques Maritain e Raíssa Maritain. Em suas juventudes alimentavam o desejo de encontrar a verdade, caso isso não ocorresse, preferiam a própria morte. Influenciados pelo místico, escritor Charles Peguy, ambos, apreendem o “sentido do absoluto”. Influenciados pelo testemunho do romancista e ensaísta francês Leon Bloy, que afirmava, “só há uma tristeza, é de não sermos santos”, recebem a Graça do Batismo.
Caminhada de amor e fidelidade à Igreja, que resultou em mais de sessenta obras, tornando o casal, pilar da renovação do Tomismo e artífices de renovação da própria Igreja, vivenciada na Primavera do Concilio Vaticano II.
A leitura das obras do casal Maritain nos faz ver que, o grande caminho a seguir, é o da Pluralidade, o respeito ao Diferente, o caminho da Democracia, o caminho do Humanismo Integral; pois que, o homem e a mulher possuem uma incrível capacidade de Transcendência, de Mística e de Liberdade. Eis aí a Dignidade Humana. Controverso e incoerente é reduzir o ser humano em uma explicação química e biológica, negando a nossa vocação natural, negando a essência da Divina Criação.
O casal Maritain, apaixonado pela busca da Verdade, do Bem e do Belo, como está demonstrado no livro de memórias de Raissa “As Grandes Amizades”, destaca que, “Só a amizade espiritual pode reconciliar o chamado da caridade com o da verdade. É preciso que o Amor proceda da verdade e que o conhecimento frutifique em Amor”.
Em suas trajetórias combateram firmemente as concepções Nazistas, Fascistas e Comunistas através de valores éticos, demonstrados como, por exemplo, no livro “Cristianismo e Democracia”, onde resgatam ideias como a dignidade da pessoa e, a liberdade. Para Jacques e Raíssa, democracia era muito mais que um sistema de governo pela maioria e, sim, “uma humana maneira de viver”.
Necessitamos de verdadeiras referências para que possamos ultrapassar as tempestades e redescobrir novos horizontes utópicos.
Peregrinos do Absoluto, Jacques Maritain e Raíssa nos mostram um novo horizonte: quando tudo parecia perdido, ambos souberam viver com Sabedoria a Fé, a Esperança e o Amor; e conseguiram influenciar toda uma geração, com valores cristãos de Justiça e Democracia, em plena comunhão com a Igreja.
Roberto Camilo Órfão Morais