quinta-feira, 18 de abril de 2024

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“NÓS E O TEMPO” – Uma reflexão sobre o ‘novo normal’, expressão recorrente

Nós e o Tempo

“Novo normal”, expressão frequente dos dias atuais que nos leva a refletir sobre a maneira de perceber o tempo. O teólogo Volney J. Berkenbrock, no livro “Novo Normal?” [Ed. Vozes/Nobilis], realiza pertinente reflexão, tendo como base a mitologia Grega em suas cinco formas de pensar o tempo.

A primeira forma é “Chronos” (Cronos), o “Deus do Tempo”, grandeza que pode ser medida por horas, minutos, dias, semanas, meses e anos. Sua força de “Titã” é implacável. É o tempo cronológico que a humanidade imaginava ter aprisionado em sua rotina e, que foi desamarrado por essa crise pandêmica. Para enfrentar os desafios cronológicos, Volney J. Berkenbrock propõe a “sabedoria racional, re-criando, focando” no que se está fazendo em cada momento. Penso que, quanto se planeja o tempo cronológico, mais liberdade se tem.

O segundo é o “Tempo Kairológico”, que não pertence a “Chronos”, como afirma o autor; portanto, não é cronometrado. É o tempo das oportunidades, daquelas que passam   rapidamente. No texto bíblico, em grego, “Kairós” é o tempo da “ação restauradora de Deus”. Para Leonardo Boff, em “momentos de crise vive-se com especial intensidade o Kairós”. A crise apresenta oportunidades que devem ser aproveitadas, em favor da ‘Vida’. Para o autor, “a crise/ruptura tão sofrível, exige à sabedoria do bem viver” e, acrescento, a necessidade de se criar uma “consciência ética planetária”.

O Terceiro é o “Tempo Aiônico”, a concepção cíclica do tempo, espaço de renovação que assume o passado, sem renegá-lo, integrando-o dentro do momento presente. Para Aristóteles o “Tempo Aiônico” é a “totalidade da existência universal – Eternidade”. É o encontro com nós mesmos; que, para Teólogo Volney, “nesses tempos de Pandemia, nos foi servido talvez, em um tempero bem amargo”; fazendo-se, segundo ele, necessário a sabedoria reflexiva, “nunca estamos fora de nossa totalidade, nela nos movemos, nos renovamos e assim somos”.

A quarta maneira é perceber o “Tempo de forma cultural: Sintópico (Lugar convergente) e Distópico (Lugar divergente)”. Para Volney J. Berkenbrock, “sentimos que somos contemporâneos de muitos (Sintópico), mas também sentimos não sermos contemporâneos de muitos outros (Distópico)”. Penso que, muitos se tornaram estranhos ao nosso convívio e, isso tem fomentado ódio e violência, até mesmo provocado o distanciamento entre amigos, familiares. O Teólogo sugere a “sabedoria cultural, a tolerância como remédio para essa tensão”.
O quinto é o “Tempo Mítico, dos arquétipos, das origens e fontes”. Valores Éticos, que são atemporais, universais e válidos para todos. “Vive-se, em momentos de crise, a oportunidade de re-encontrar com a origem”, como citado no livro, a interessante afirmativa de Santa Clara, em carta no séc. XII, à Inês de Praga, que vivia uma situação de crise pessoal: “Nunca esqueça seu ponto de partida”.

Volney J. Berkenbrock conclui dizendo que se faz necessário conviver com as diferentes maneiras de sentir o Tempo: “Para Tempo Cronológico, a sabedoria racional; para o Tempo kairológico, a sabedoria da sensibilidade; para o Tempo Aionico, a sabedoria reflexiva; para o Tempo Sintópico/Distópico, a sabedoria cultural e, para o Tempo Mítico, a sabedoria ancestral”.

Nessa finalização, pode-se somar toda ‘sapiência’ do Eclesiastes 3:1: “Para tudo há uma ocasião e, um tempo para cada propósito debaixo do céu”.

Roberto Camilo Órfão Morais