Aprendi a apreciar o meio ambiente de uma forma incomum. Nos anos 70 meu pai foi um dos primeiros políticos e executivos do governo brasileiro a abraçar a causa ambiental, quando esta havia recém nascido. Minhas primeiras memórias com três e quatro anos de idade contavam com um motorista e guarda costas, que protegiam a mim e a minha família de ameaças, aparentemente de empreiteiras, que não estavam de acordo com as áreas de proteção ambiental permanente que meu pai lutava para definir. O contraste é de alguém que entende a importância do crescimento para, por um lado, tirar pessoas da miséria e, por outro, entende os limites do crescimento devido ao equilíbrio da natureza, e é isso que faz com que eu me debruce sobre este tema por muitos anos.
O Brasil detém 12% da água doce do globo e também possui a maior reserva de água potável do mundo – o Aquífero Guarani – e, além de contribuir com 5% da produção mundial de alimentos, é fertil em minérios. Porém, com uma vasta população que deseja migrar da pobreza para a classe média, estamos falando em um aumento per capita em emissão de CO2 substancial. Precisamos agir de forma preventiva, e não esperar que algumas milhões de pessoas economicamente ativas, se somem ao problema que já é complexo de resolver.
Portanto, se formos considerar que a China está cada vez mais fechada, a Rússia em guerra e os EUA com um custo por cientista de dados cinco vezes o do Brasil, são países problemáticos, ou o Canadá que é uma grande geleira vazia, ou mesmo a Finlândia – um exemplo de educação, mas sem representatividade mundial, nem em população ou mesmo em recursos. E, diferente destes países, o Brasil traz uma experiência rica em absolutamente todos os aspectos.
O meu país é rico, só que alguns não sabem, outros ignoram, outros extorquem, fraudam, e assim por diante. Mas isso não é sinal de que outras coisas não funcionam por aqui, como exemplo, a Inteligência Artificial (AI) .
Mais do que o futuro mundial, investir em AI em terras brasileiras a favor do meio ambiente é ver um horizonte dinâmico e brilhante para a humanidade e para as empresas que se arriscarem. Explico o porquê.
Em primeiro lugar, podemos considerar a experiência, pois serão implementados recursos para tomar as medidas necessárias para cuidar do meio ambiente em um lugar que tem variados climas, mais de 800 milhões de hectares em terras e mais de 7 mil quilômetros em litoral – inclusive, com partes mais frias e mais quentes. Ou seja, um investidor que veja no Brasil uma possibilidade testa uma gama de ferramentas de AI que poderão ser implementadas em qualquer lugar do mundo.
Em segundo lugar, serão investidos os recursos exatamente nos pontos onde são críticos, como exemplo, desenvolver e diminuir custos da energia renovável em grande escala de território e para muitas pessoas. Ainda, precisamos considerar que além do próprio país, o Brasil pode se tornar capaz de abastecer 10 nações vizinhas, que podem trazer as poucas experiências que o país não tem, como vulcão, neve e deserto, por exemplo.
Existem muitas formas de aplicar as ferramentas e trazer retorno ao meio ambiente, como a cadeia de suprimentos, que pode ser abastecida por motoristas que conduzam os veículos de forma mais econômica e, em grande escala, isso pode fazer toda diferença. Assim como a saúde e manutenção daquele veículo. Também podem ser investidos em AI de roteirização, e detecção da performance de emissão de poluentes.
Essas entre outras ferramentas poderão contribuir com a perspectiva do relatório encomendado pela Microsoft, ‘Como a AI pode possibilitar um futuro sustentável’, que prevê que esse tipo de tecnologia contribuirá mundialmente com US$ 5,2 trilhões para a economia, além de reduzir em 4% as emissões de gases prejudiciais ao meio ambiente e criar 38,2 milhões de novos empregos.
Cremos que estes números em referência de emissões são ainda mais baixos do que poderíamos alcançar. Um único motorista que dirige um veículo com base em combustível fóssil de forma consciente, ou seja, com feedbacks de IA em referência a seu comportamento, emite 15% a menos de CO2. Este número se mantém em caminhões ultra pesados que poluem mais.
A questão está constantemente sendo levantada, como no evento de tecnologia e inovação, o Collision, que aconteceu em julho deste ano, em Toronto, onde muito se abordou as metas ambientais. Nós precisamos de empresas que mudem a forma de cuidar da descarbonização, por exemplo, mas que tenham a AI, como uma grande aliada.
Devemos pensar que esse trabalho vai desde a monitorização por satélite de todos os passos referentes ao meio ambiente, à casa inteligente, que vai funcionar de acordo apenas com o necessário. Podemos também pensar no rastreamento do lixo volumoso, como sucata de carros, óleo de cozinha, enfim, todos esses dados reunidos, analisados e destinados ao melhor processo de descarte ou reutilização. Isso é a AI voltada para aquele que manteve e, certamente, sempre salvará a humanidade, o meio ambiente.
A complexidade de uma sociedade que deve economicamente continuar crescendo, além é claro do crescimento populacional em contraste com todas as formas de poluição que devem ser per capita minimizadas, é um desafio que vai além de qualquer capacidade humana. Que sorte que temos a IA para nos ajudar. Nenhum local é mais adequado para esta revolução que o Brasil.
* Artigo originalmente publicado em inglês no Minerva Thinking , da plataforma Medium.Fonte: Nacional