Comando Local de Greve
Campus Machado
Desde o dia 29 de abril, os servidores do Campus Machado do IFSULDEMINAS estão em greve por tempo indeterminado. Ao se deparar com essa informação, é esperado que qualquer cidadão se pergunte: “afinal, contra ou a favor do quê e de quem é essa greve”? Para tentar responder a esse questionamento é preciso fazer alguns esclarecimentos de ordem conjuntural.
A deflagração da greve, não só no Campus Machado como em todas as demais unidades do IFSULDEMINAS, ocorre em meio a um movimento nacional de servidores da educação federal que vem há anos reivindicando melhorias nas suas condições de trabalho, algo que perpassa tanto pela recomposição salarial, estagnada desde 2016, como pelo restabelecimento dos investimentos na rede federal de educação, que ano após ano enfrenta dificuldades para conseguir arcar com despesas básicas relativas ao custeio do seu funcionamento.
Para se ter uma ideia do tamanho dos prejuízos acumulados por anos de negligência e descaso com a educação pública em âmbito federal, é importante nos atermos a dois dados que muito provavelmente a maior parte dos cidadãos desconhece, até mesmo por tratar-se de informações que pouco ou nada recebem de atenção da grande mídia nacional.
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que entre janeiro de 2017 e maio de 2023, a maior parte dos servidores públicos federais, dentre os quais os servidores da educação, ficaram com os seus salários totalmente congelados, sem absolutamente nenhum reajuste que sequer recompusesse a inflação do período. Tão grave quanto esse arrocho salarial imposto aos servidores, nos últimos anos as universidades e institutos federais têm enfrentado redução sistemática dos recursos destinados ao seu funcionamento e investimentos que garantam condições de permanência e êxito dos estudantes, tais como manutenção da infraestrutura, incentivos à extensão e pesquisa, além da concessão de bolsas de auxílio estudantil a alunos em condições de vulnerabilidade socioeconômica.
Pense você, trabalhador ou trabalhadora, os impactos de ter a sua renda congelada por mais de seis anos, em meio a um aumento real do custo de vida, no período, superior a 30%! Qual seria a consequência dessa estagnação para a sua qualidade de vida e de sua família? Agora, pense você, cidadão ou cidadã brasileira, estudante ou familiar de estudante, o que significa gerir com qualidade uma instituição de ensino que em 2024 recebe um recurso orçamentário equivalente ou menor do que o de oito anos atrás? Podemos simplesmente fingir que nada está ocorrendo? Como conciliar os anseios por uma educação pública de qualidade e cada vez mais acessível aos brasileiros com um cenário de escasseamento de investimentos públicos e precarização das condições laborais dos trabalhadores desse setor?
A partir desses apontamentos, torna-se possível voltar ao questionamento inicial apresentado no início deste texto. Afinal, a greve dos servidores do IFSULDEMINAS é contra ou a favor do quê e de quem exatamente? Não é incomum encontrar pessoas – por vezes bem intencionadas, ainda que mal informadas – buscando reduzir a greve de servidores públicos a uma questão de ser contrário ou a favor de um governante X ou Y, ou, o que chega a ser ainda mais equivocado, voltada a interesses corporativistas que nada dizem respeito aos cidadãos e cidadãs usuários dos serviços afetados. Será mesmo essa a melhor forma de analisar o que está ocorrendo?
A você trabalhador e trabalhadora que chegou até aqui na sua leitura, a você estudante que acredita na educação de qualidade como caminho para uma vida mais digna, será mesmo que nada do que os milhares de servidores da educação federal estão reivindicando diz respeito a causas e pautas que também são suas, como o direito a acessar uma educação pública de qualidade, o direito à garantia de condições de permanência estudantil e o direito a ser atendido por servidores qualificados e valorizados pelo trabalho que desempenham?
Fundamentalmente, esta é uma greve contra o desmonte da educação pública e o sucateamento e a precarização das instituições de ensino e do trabalho dos profissionais da educação. Esta é uma greve a favor do ensino público de qualidade e de todas as pessoas que sonham com um país que tem na educação a prioridade do seu investimento. Esta é uma greve contra o desmonte do Estado e a favor de todos aqueles e aquelas que dependem do Estado para ter garantido um mínimo de justiça social em um país historicamente tão assolado pelas desigualdades.