Educação em tempos de pandemia
Encerramos o primeiro semestre letivo de 2020 onde tudo foi intenso. O professor Clóvis de Barros Filho, contribui com essa reflexão, nos levando a entender que, ‘com a intensidade da vida, o tempo passa rápido e não percebemos [não nos damos conta de ter vivido] pois parece que o presente absorve tudo’.
Ao finalizar um período letivo é a práxis avaliar. Porém, o que ninguém sabe, ainda, é como avaliar uma realidade tão complexa, pois navegamos em um mar de incertezas.
As decisões que estão sendo tomadas pelas pessoas, provavelmente moldem o mundo nos próximos anos. Com isso, elas influenciarão não apenas os nossos Sistemas de Educação mas toda a rede de relações que nos envolve.
O que espanta em tudo isso é um ‘novo normal que virá!’ Busquemos então, refúgio nas palavras do poeta Fernando Pessoa: “sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do Mundo”.
Nos deparamos com a necessidade de ampliação quanto ao uso das novas tecnologias no processo de aprendizagem. Não foi uma experiência tranquila lidar com a modalidade de ensino a distância. Mas, tudo na vida tem suas alegrias e novidades como, por exemplo, o entusiasmo dos estudantes na sensação em estarem rompendo um isolamento de forma segura; mesmo de uma maneira virtual. Como nos ensina o teólogo Leonardo Boff: “o mal nunca é tão mau que impeça a presença do bem” e que “o bem nunca é tão bom que tolha a força do mal”. Ou seja: devemos aprender com as contradições.
Isso nos remete à reflexão que, em tempos de crise, temos que nos lançar na busca do essencial. Mas, afinal, o que é hoje o essencial? Talvez nos convençamos de que não são os procedimentos, nem os conteúdos corroídos que são pelas novas tecnologias.
Quem sabe, o essencial é o bom dia, o boa tarde e o boa noite! – pronunciados logo no início da aula. Quem sabe, o essencial é o sorriso, o humor presente entre os estudantes numa relação de empatia.
Em tempos como esses, fica claro que, educar é saber trabalhar com a arte, visando dar sabor e alegria à aridez da vida.
O pedagogo Rubem Alves costumava dizer que “para entrar numa escola, alunos e professores deveriam passar antes por uma cozinha e aprender que sabedoria, tal como paladar, é uma arte do desejo”. Ele tinha conhecimento da ligação entre saber e sabor, que a própria etimologia latina confirma (sapare, sapore).
Podemos perguntar o que leva à aprendizagem, em tempos de tanta incerteza e medo? A vida tem nos ensinado que é a curiosidade, a admiração e a angústia… a vontade de conhecer a aurora de um novo dia.
Concluímos o semestre letivo e esse texto com o verso do poeta Charles Peguy: “a Fé vê o que é. No tempo e na Eternidade. A Esperança vê o que será. No tempo e na eternidade”. Tenhamos Esperança!
Roberto Camilo Órfão Morais
Ex-prefeito, professor de Filosofia do Instituto Federal do Sul de Minas (Campus Machado).