quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A informação a um clique de distância!

Faça o seu login ou Assine a folha

Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Email

EDITORIAL: “Proibido fechar os olhos”, sobre a Festa de São Benedito

Proibido fechar os olhos

Edelson Borges
Diretor da FOLHA

O brilho, a magia e a importância das congadas são suficientes para projetar Machado em cenário nacional.

A cidade tem a Festa de São Benedito como Patrimônio Cultural Imaterial desde 2012. E, fora seu fundador e ex-diretor, professor José Vítor da Silva, que propôs e redigiu, com detalhes, a sequência dos escritos para o Relatório de Tombamento Cultural da Festa. – Minas, desde 03 de agosto deste ano, tem as Congadas como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado.

É óbvio que a posição de vanguarda de Machado influenciou nas tratativas do Estado. E,na cerimônia no Palácio da Liberdade, no início do mês, em Belo Horizonte, o Terno de Demonstração da Associação dos Congadeiros foi uma das referências culturais. – Terno Modelo, para os congadeiros, fundado pelo jornalista e professor José Vítor da Silva, ex-presidente da Associação dos Congadeiros e um dos fundadores da Casa Tio Chico, sede da Associação.

Há 50 anos, a FOLHA divulga, amplamente, todos os festejos em torno de São Benedito. E, não se limita às edições do mês de agosto. São Benedito, para nós, é devoção. Desta forma, o jornal fica muito à vontade para elogiar a grande organização do evento [Prefeitura, Associação dos Congadeiros e Paróquia Sagrada Família] e, criticar, quando necessário.

Em primeiro lugar, parabéns aos três entes envolvidos na organização da festa. Transcorreu conforme as possibilidades do modelo proposto. Mas, é latente frisar: o modelo exclui os congadeiros do palco da festa, em seus momentos mais importantes. Portanto, precisa ser revisto para a manutenção da tradição.

Samba, pagode e alguns outros estilos musicais fazem parte da festa. Inclusive, o samba tem origem no samba de roda, do Recôncavo Baiano; é afro-ancestral. Congado, samba de roda, maracatu, frevo, tambor de crioula, jongo e a capoeira têm a mesma origem. A Mãe-África.

Mas, o modelo que deu certo no passado não se aplica ao presente. O modo de vida, hoje, é outro. A juventude pensa e age de forma diferente. Os costumes são outros. O Terreiro Sagrado da Festa, contudo, continua o mesmo.

Não há espaço físico suficiente para unir dois universos, ao mesmo tempo. Durante a Embaixada de Carlos Magno, por exemplo, o som no palco da Avenida Santa Cruz continuou normalmente. – Um deboche à cultural ancestral do povo negro de Machado!

O ideal seria utilizar a Arena Zuza, no centro da cidade, para os shows que não têm ligação com as Congadas. A Arena Zuza foi construída para isso. E, de um ponto a outro são 800 metros de distância, aproximadamente. – As congadas são preservadas, o comércio do centro também é privilegiado e a segurança agradece.

Mas, isso não ofusca os graves problemas que vêm sendo notados nos últimos anos.

Todos, principalmente os turistas, que vêm a Machado para ver as congadas, percebem que falta espaço físico na praça. Fica claro, também, o absurdo avanço de mesas e cadeiras, para clientes de barracas, sobre o que deveria ser a passarela dos congadeiros. As barracas deveriam ser suficientes. Não sendo, delimitou-se uma faixa amarela no piso da Praça São Benedito. Mas, ninguém respeita. Ninguém! – E, como não há multas, as infrações vão se acumulando! – Tudo por dinheiro!

Neste cenário, os congadeiros chegam em frente à Capela que leva o nome do Santo, e, geralmente, convergem à esquerda, ficando à margem, à Avenida Santa Cruz, após as chegadas da Procissão e do Reinado.

A fiscalização também tem fechado os olhos para a venda de bebidas sem alvará, venda de bebidas em garrafas de vidro [fora da Praça de Alimentação], locação de imóveis com objetivo de promover festas e vender bebidas etc.

Outro ponto gravíssimo: tráfico e consumo de drogas explícito no entorno da festa. Cocaína tem sido consumida à luz do dia. No domingo da Subida do Mastro, por exemplo, às 17h10, no banheiro masculino da Praça São Benedito, havia consumo de cocaína no local. Boa parte dos homens que tiveram que utilizar o banheiro do piso inferior da Praça presenciou cenas de consumo de cocaína.

Na esquina da Rua Dom Hugo com a Travessa Maurinho Som, na lateral da Praça São Benedito, uma mureta era utilizada pelos usuários de cocaína; principalmente à noite.

Um colega jornalista, que visitava Machado, presenciou, sexta-feira passada, às 19h20, consumo de cocaína, na rua, próximo ao hospital. – A situação é gravíssima! Não é possível conviver com isso numa festa que celebra a ancestralidade e a religiosidade.

Nos moldes atuais, o Conselho Tutelar não consegue agir, a fiscalização é falha, a Polícia Militar fica de mãos atadas. É preciso separar as coisas; é preciso preservar a cultura e história de um povo que carrega por, pelo menos, 160 anos, a devoção à Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito.

A Igreja também precisa deixar de comercializar a fachada da Capela São Benedito, paisagem arquitetônica que faz parte da Festa de São Benedito. O lucro com as outras atividades é o suficiente, acredito! É um desrespeito aos Congadeiros veicular publicidade durante o momento de devoção e reverência aos santos negros.

Anos atrás, a discussão sobre os problemas da Festa de São Benedito era com relação aos ambulantes da Rua Airton Rodrigues Leite. – Café pequeno diante dos desafios que precisam ser resolvidos de forma imediata!