Das simplicidades à singeleza
O ‘fundo do quintal’ nos dá muitas lições. Quando organizamos ou limpamos a bagunça, novas vidas emergem…
Arrumar o ‘fundo de nossos quintais’ é continuar falando com nossos pares, nossos alunos, familiares, comunidades etc.
‘Simbiose acordada’ – aprovada pelo amor ao próximo; estava adormecida e, agora, se torna, clara, despertada numa manhã de ‘incertezas’, à qual, se torna ‘clareza’, em mística de oração e fé, na prática. Esperança. Nunca esperando. Mas “esperançando” (Paulo Freire).
Sim, porque, quando se nos temos amor à humanidade, ela torna-se ‘clareza’, em momentos de escuridão – basta olhos e mística (na ação) ’, para ver.
Espiritualidade e mística – Produção fenomenológica para poucos, os simples: ‘no olhar do outro, a singeleza da prática diária da doação – da partilha.
Nunca é tão pouco para repartir o que temos; mesmo sendo mínimo’; quanto a imensidão do sorriso de gratidão que vamos ganhar..
Pode ser do sorriso, ao prato de alimentação humana, do abraço ou a oração. Dos frutos das hortaliças ‘do fundo do quintal’ (redefinições da nossa vida), distribuídos aos vizinhos. Tudo é partilha, em pequenos gestos.
Descobrimos que, na manhã das incertezas, há uma noite escura que, antecede; e, sempre será rompida pela claridade do dia.
‘Por maior que seja a noite, o dia resplandece com todo vigor – ressurreição!’
Observa-se, na nossa caminhada, que há uma diferença em ‘abraço amigo”, entre ‘ombro amigo’; subjetivamente na horta do ‘fundo do quintal’ (ressignificações existenciais da nossa vida).
Ao produzir uma horta de legumes e hortaliças, nos reconstituímos. Porque a horta nos abraça, em reconhecimento ao cuidado para com a Mãe Terra, produzindo frutos. Gratidão!
Mas existe algo mais profundo. Essência.
Na horta (da vida), existem folhas que não são abraços, são ‘ombros’ que sustentam às demais.
No ‘fundo do quintal’, assim acontece na horta, aos sons dos sinos do Santuário – que nos chamam à vida: enquanto umas folhas se abraçam, outras as sustentam do peso que tem que suportar… alfaces, couves, brócolis, couve flor, cebolinhas e salsinhas…
Tantos seres humanos. A cada morte ou, fome, na pandemia, uns se abraçam, outros se sustentam…
Aí está o cerne da questão. Enquanto umas se abraçam, outras são sustentação.
O abraço acontece em momento fortuno; já o amparo, em tempo infortuno, no sigilo da noite que, por mais escura que seja, resplandece ao dia, com a garantia de poder continuar e, lutar pela sobrevivência.
As que sustentam são amparo, na essência, como ombro amigo, na solidão. Esse é o detalhe: o ombro amigo. Essência: aquilo que não vemos, somente sentimos (sementes em dormência para germinar).
O abraço é forte, oportuno, momentâneo, certeiro e, meritório, no apoio imediato; quanto todos estão presentes, pois que se dá, num toque de peles e, cheiro de corpos, mesmo agora impedidos (mas que se realizam pelo brilho dos olhos por trás das máscaras), desejo e realização de um beijo, no ápice da dor, no momento exato, esperado – existência. Importante. Colher, ‘do fundo do quintal’, a mais bela hortaliça, levar em oferta ao vizinho, onde somente os olhos mostrem a gratidão em servir e ser servido; na oração aos seus entes perdidos pela COVID-19.
Já o ombro – amigo, é transcendente, eterno, acima da sensibilidade, é muito mais forte e sigiloso – ético; ele é posterior, quando todos se afastaram e, se dá no silêncio da proximidade individualizada, íntima, única, da perscruta, da introspecção: acolhe e sustenta aos momentos a dor. Recebe, acalanta e, ama ao outro, na solidão do abandono, sabe como o é. Chega como oferta – ofertório na santa missa: legumes e hortaliças do ‘fundo do nosso quintal’. São depositados no altar do nosso coração, ao coração do outrem; momento de oferta e acolhida, um para com o outro…
Não tem valor monetário. Tudo é silêncio no brilho dos olhos. Somente que os vive, sabe e tem acuidade de sentidos para os perceber. Essência na sensibilidade.
Descobrimo-nos em momento de introspecção, ouvindo o badalar dos sinos do santuário. Bronze e cobre – minerais que formam sinos. Duros, mas flexíveis (façamos de nosso coração duro, uma flexibilidade). Como deve ser a nova vida. Da dureza à flexibilidade. A descoberta se dá por uma coisa muito simples: Então, produzir uma horta de legumes e hortaliças, ouvindo os sinos do santuário (já que não podemos sair às ruas) é, produzir ombros amigos, no momento oportuno.
Aqui nossa resposta existencial: no fundo do nosso quintal escondido: somente ‘Deus e eu’, sabemos de nossos segredos – e, o acredito, como soluções.
Enclaustos, descobrimos a essência: singela em produzir vida, numa horta de legumes e hortaliças – relação ecossistêmica, no ‘fundo do quintal’.
Que busquemos lá, no ‘fundo do quintal’, respostas para nossa emancipação.
Temos desafios: aqui no ‘fundo do quintal’, tenho lagartas e, preciso conviver, harmonicamente com elas. Temos um aprendizado: preciso delas para equilíbrio ecossistêmico, mas elas não podem destruir minha horta. Mas também não posso exterminá-las com agrotóxicos.
Em suma: não posso exterminar o semelhante pela competitividade. Um campeão olímpico, o é, porque o adversário é excelente. A excelência do campeão, está na qualidade do adversário. Por isso o abraço no pódio, o respeito mútuo. Somos vencedores porque o outro é tão forte quanto eu.
Assim é a vida. Equilíbrio de forças. Hora um, hora outro. Mas com respeito e ética. Pluralidade. Diversificação.
Como aqui, nas lições dos canteiros de hortaliças e leguminosas do ‘fundo de quintal’. Convivência com a diversidade, com a pluralidade.
Aprender a convivência, mesmo que à diversidade, em paz com lagartas e, tantos outros seres da natureza que, em princípio, são nocivos às nossas hortas vegetais (como humanas). É primordial e, saudável, para aqueles que querem (desejam), montar um canteiro de hortaliças (até existencial) – demanda tempo.
Mas, elas, as lagartas (nossos combates interiores), não os são somente o perigo único – não só às nossas hortas de leguminosas, quanto às nossas hortas existências (temos muitas lagartas que nos atormentam em forma existencial e, não será com agrotóxicos existenciais que iremos sucumbi-las).
Posso afirmar: todos precisamos conviver bem, entre nós mesmos, sem precisarmos de “agrotóxicos” (químicos ou existenciais) – sem nos contaminarmos; precisamos sim, nos reproduzir, ao amor à humanidade – em todos os sentidos. Lições de uma pandemia.
Aprendamos, em como cuidar de nós mesmos! Um ombro amigo, só nos é propiciado, pela abertura que nos damos ao outro. Basta olhar a natureza: a larva tem sua função na horta, o passarinho – outra função; já os sinos do Santuário, pelos minérios ali fundidos, ecoam nova função: despertam-nos para a vida, numa resposta em um sim, à Criação! Mística.
Mesmo que, presos, encarcerados, (pandemicamente) – existencialmente falando, somos livres, pelo “fundo de nosso quintal”.
Na nossa grandeza. Magnitude. Com humildade.
Simplicidade, na singeleza…
Lições e aprendizagens do ‘fundo do quintal’!
Alexandre da Fonseca, Neuropedagogo, graduado em Pedagogia e Filosofia.