DO ATO MORAL AO ATO POLÍTICO
Em tempos propícios, volta em cena a questão: “O que é moral? Para que ‘ser’ moral? ” Com as respostas que sempre buscamos a essas questões, observa-se o quanto são cruciais, para cada um orientar sua conduta em relação aos outros e, a si mesmo. O que entendemos por “bem” ou por “mal” pode então, definir o tipo de pessoas que desejamos ser, como também, qual o compromisso que temos com os valores assumidos? Desta feita, como ninguém nasce moral – mas torna-se moral -, é preciso todo um esforço de construção do sujeito ético, empreitada que nem sempre atinge os níveis desejados de amadurecimento.
Christian Descamps, historiador filosófico, em As Idéias Filosóficas Contemporâneas na França (1991, p. 84), ao referir-se ao filósofo Jankélévitch analisa que “Basta um quase-nada, um não-sei-o-quê para que o ato de generosidade se revele como cálculo sórdido. Se sou generoso para que louvem minha generosidade, se amo para que me amem, meus atos não possuem mais verdade”. Assim, os estudos contemporâneos sobre os níveis de moralidade, os teóricos (alguns), têm considerado que, para avaliar o amadurecimento moral das pessoas, não basta verificar a exterioridade da sua ação.
Exemplificando, embora agindo de modo idêntico, duas pessoas põem-se a mobilizar-se por critérios diferentes, caso visem a escapar de uma punição, atender a um interesse particular, garantir a ordem social ou, ainda, agir conforme a justiça. O indicativo do estágio típico do comportamento infantil, é o temor à punição ou o desejo de elogio e, enquanto se guiar pela justiça, é admitir um princípio ético superior na escala do aprimoramento moral. Exemplificando mais um pouco, temos a lenda do “Anel de Giges”, transcrita por Platão na obra A República. O cerne da lenda é que quem conseguir virar o engaste (garra que prende o anel), para dentro, se tornará invisível.
Quantos motoristas evitam cometer infração se houver um guarda de trânsito por perto, mas transgridem as regras quando ninguém os vê?
Conta então que o pastor Giges, prestador de serviços do rei da Lídia, salvou-se de um abalo sísmico, retirou de um cadáver o referido anel e, ao descobrir que podia ficar invisível, quando bem quisesse, adentrou ao castelo, seduziu a rainha e, tramou com ela, a morte do rei, obtendo assim, o poder.
Não seria assim que determinadas pessoas costumam se comportar? Agem bem ou mal dependendo de quem as vigia, para serem recompensadas ou para parecer boas e justas ao olhar do outro? Quantos motoristas evitam cometer infração se houver um guarda de trânsito por perto, mas transgridem as regras quando ninguém os vê? Nesse caso, a ação depende do medo da punição.
Podemos avaliar do mesmo modo aqueles que entendem mal os preceitos religiosos e agem bem para “ganhar o céu” ou, para “não ir para o inferno” e, não propriamente por convicção pessoal sobre a justeza de suas ações.
Esses exemplos, embora se refiram à conduta moral, não dizem respeito aos seus níveis mais altos. Ao contrário, todos os comportamentos descritos – ainda quando seus autores são adultos – pertencem ao mundo infantil; porque a criança age de acordo com as regras dadas pela autoridade (pais, professores, sociedade) e, tem em vista evitar o castigo ou ser recompensada.
Mas, tudo isso são pequenas reflexões em momentos, talvez propícios, como os que vivemos nessa contemporaneidade…
ALEXANDRE DA FONSECA
Neuropedagogo, graduado em Filosofia e Pedagogia.