O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve manter nesta quarta-feira (21) a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 13,75% ao ano, de acordo com as expectativas do mercado. A reunião do Copom teve início nesta terça-feira e se encerra no final da tarde desta quarta.
Apesar da frequente pressão do governo federal, sobretudo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ciclo de corte de juros deve se iniciar apenas na próxima reunião do Copom, marcada para o início de agosto, segundo economistas ouvidos pelo portal iG.
“As atenções estão voltadas ao comunicado que acompanha a decisão de juros”, afirma Rodolfo Margato, economista da XP. “Nós esperamos alguns ajustes sobre o comunicado, especialmente incorporando a melhoria recente em alguns fatores e alguma sinalização de que em breve teremos o início de um ciclo de corte de juros”, completa.
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Manutenção dos juros altos
A Selic está no patamar de 13,75% ao ano desde agosto do ano passado. Descontada a inflação, essa é a taxa mais alta do mundo.
Os juros são um mecanismo utilizado pelo Banco Central para perseguir a meta da inflação: se a inflação está alta, os juros sobem para tentar controlá-la.
“O maior motivo para o Banco Central manter a Selic em 13,75% até o momento é a preocupação com as expectativas de inflação no longo prazo, os núcleos de inflação elevados e a incerteza fiscal. Desde a última reunião do Copom, em 3 de maio, todas essas variáveis mudaram para melhor, principalmente a incerteza fiscal, após a aprovação do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados”, avalia Pedro Oliveira, tesoureiro do Paraná Banco Investimentos.
Nos úlimos meses, o cenário macroeconômico deu diversos sinais de melhora, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima do esperado no primeiro trimestre, a queda na cotação do dólar e melhorias nas estimativas de inflação por parte do mercado. Apesar disso, os juros ainda não devem cair. Para Rodolfo, um forte indicativo disso é que, na última reunião do Copom, em maio , não houve qualquer sinalização de corte.
“O Copom tem conduzido a política monetária com previsibilidade, e não houve na comunicação mais recente uma indicação de início de um ciclo de corte de juros. Nós acreditamos, pela postura do Banco Central, que primeiro haveria alguma sinalização, alguma mudança no tom do comunicado, para então efetivamente ter o início de um corte de juros”, analisa.
Além disso, economistas avaliam que o órgão ainda não está completamente seguro para iniciar a queda nos juros, já que é necessária uma consolidação dos dados macroeconômicos positivos. “O Banco Central deve ser cauteloso”, opina Pedro. “Entendemos que o Copom continuará a agir de forma parcimoniosa e técnica a despeito das pressões vindas dos agentes de mercado”, complemeta Marianna Costa, economista-chefe do TC.
Futuro da Selic
Na análise da TC, os cortes nos juros, que devem iniciar na reunião de agosto, serão mantidos até o primeiro trimestre de 2024. “A dinâmica da inflação nos próximos meses deverá dar o tom de cautela para o processo de corte dos juros, uma vez que essa dinâmica deve ser de queda nos próximos meses, onde o dado acumulado em 12 meses chega perto do centro da meta no começo do terceiro trimestre para então ganhar força e terminar o ano acima de 5% e apenas em 2024 voltar a apresentar arrefecimento e terminar o ano perto de 4%. Essa deve ser a tônica das críticas ao Banco Central, em especial para que o corte seja mais expressivo e em velocidade maior”, analisa Marianna.
O Paraná Banco Investimentos estima que o corte de agosto deve ser de 0,25% ao ano. Na visão da XP, também há espaço para o início do afrouxamento da política monetária na próxima reunião.
Governo x BC
Desde o início do ano, o governo tem sido bastante crítico às decisões do Copom. Para a gestão de Lula, os cortes nos juros já deveriam ter sido iniciados antes. “Para mim, [o início da redução dos juros] deveria ter sido em março”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad , nesta segunda-feira (19).
Para Rodolfo, da XP, as críticas do governo são entendíveis, mas o Copom acertou em manter os juros em patamar elevado até o momento. “Tem uma uma avaliação não apenas da ala política, mas de boa parte da sociedade, de que os juros estão altos, até os próprios membros do Banco Central vêm dizendo que os juros estão em patamares elevados. Isso gera um desconforto para muitos empresários e para a classe política. Mas a elevação dos juros tem motivo”, analisa.
Segundo o economista, no início do ano, sobretudo no primeiro trimestre, os indicadores não estavam positivos como hoje, portanto não havia espaço para cortes. “Agora a gente está num momento distinto, na nossa avaliação faz sentido o início de um ciclo gradual de afrouxamento monetário. Então, a condução da política monetária, na nossa avaliação, parece ter sido acertada”, afirma.
Fonte: Economia