Edelson Borges da Silva
Diretor da FOLHA
Passando alguns dias com a família nas proximidades de Aparecida, em São Paulo, optei por ir ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, santa padroeira do Brasil, na quinta-feira, dia 13. Já era prevista superlotação na Casa da Mãe dos devotos católicos, mas, o que se viu, na verdade, foi uma baderna, com a visita presidencial; justamente, no Dia de Nossa Senhora Aparecida, feriado nacional.
É preciso cuidado e respeito com as religiões. Com todas as religiões, sejam elas quais forem. Ninguém é igual a ninguém e toda pessoa tem o direito de cultuar seus santos, orixás e divindades. O princípio de tudo é o respeito!
Em relação ao que ocorreu em Aparecida, o caso foi estudado e de propósito. O presidente chegou à cidade em um evento que ocorria em frente à Basílica Velha. Ali, houve tumulto e vaias ao Arcebispo de Aparecida durante sua fala em relação às crianças; que nenhuma criança deveria passar fome.
Em seguida, a comitiva desceu a Passarela em direção ao Santuário Nacional. Apoiadores políticos acompanharam o movimento com latas de cervejas nas mãos e hostilizavam quem estivesse pela frente; principalmente, as pessoas que trajavam roupas vermelhas.
No entorno do Santuário, um local sagrado, equipes de televisão da TV Aparecida e da TV Vanguarda (afiliada à Rede Globo) foram hostilizadas. Até equipamentos tentaram tomar dos jornalistas. – O uniforme da TV Aparecida é de cor amarela.
Horas antes, Bolsonaro esteve na inauguração de um tempo religioso da Igreja Mundial do Poder de Deus, em Belo Horizonte.
Visitas à Casa da Mãe Aparecida, ou, das nossas mães, em geral, seguem um protocolo. A casa da mãe é lugar de respeito.
O mais grave, ao meu ver: Nossa Senhora Aparecida representa uma Santa Negra. Sua imagem teria sido retirada do Rio Paraíba do Sul, em 1717. Nos últimos anos, os Terreiros de Candomblé e de Umbanda, religiões de matriz africana, vêm sendo alvos constantes de invasões e depredações. Os negros têm sido alvo dessa perseguição, denunciada, inclusive, ao Comando da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais.
A marcha política em Aparecida foi extremamente agressiva aos católicos.
Lembro-me de dezenas de vezes que estive em Aparecida, seja como repórter de O Diário de Mogi (Mogi das Cruzes/SP), ou como repórter da FOLHA MACHADENSE. Quando Cônego Walter Maria Pulcinelli completou 50 anos de sacerdócio, uma caravana de 50 ônibus o seguiu até Aparecida, para missa celebrada por ele e diversos outros sacerdotes. Silêncio absoluto na chega ao Santuário, por volta das 05 horas da madrugada. Em êxtase, mais de 2.500 pessoas aguardavam pela Santa Missa, que seria celebrada às 07 horas. – Foram 50 ônibus fretados e mais uns 20 carros, pelo menos.
Como jornalista, tive o privilégio de participar de inúmeros cultos evangélicos, participar de cerimônias de umbanda à beira-mar, estar em sinagogas, mesquitas, templos budistas e locais sagrados de diferentes religiões. E, em todos os recintos, fosse sob o teto de templo, sobre um tapete ou no chão batido de um terreiro, o silêncio e o respeito eram fundamentais.
Dissociando política de religião, e, de eleição, é lastimável o que ocorre no Brasil.
Sempre demos, ao mundo, exemplos de tolerância e respeito; principalmente, no campo religioso. Mas, o fanatismo político tem acabado com famílias e amizades.
O que aconteceu em Aparecida respingou em vários lugares do mundo. Brasileiros que residem em outros países se sentiram ofendidos. Católicos que moram e Aparecida ou em Machado, idem. Aliás, até brigas, via grupos de troca de mensagens, ocorreram em Machado, após o episódio de Aparecida.
“Oh!, incomparável Senhora da Conceição Aparecida, Mãe de Deus, Rainha dos Anjos, Advogada dos Pescadores, Refúgio e Consolação dos Aflitos, livrai-nos de tudo o que possa ofender-vos e a vosso Santíssimo Filho, meu Redentor e querido Jesus Cristo”.
Rogai por nós!