O que o pós-pandemia nos reserva?
Em 2020, foram 6.500 cestas, e, pasmem: em 2021, até anteontem, haviam sido entregues 6 mil cestas básicas
Edelson Borges
Diretor da FOLHA
Levantamentos sociais anteriores à pandemia da COVID-19, em Machado, números e dados de assistência social a famílias em situação de pobreza, são cruéis. Em 10 de abril do ano passado, a FOLHA escancarava que 23% da população estava sob risco alimentar. De lá para cá, o cenário se agravou: é fogo de morro acima. O grave, é que muitos não percebem ou ficam envoltos em nuvens, gravitando acima da real situação.
A FOLHA conversou, ontem, com o coordenador do Comitê da Ação da Cidadania em Machado, professor Eduardo Tardiole. Ele confirmou que, em 2019, o movimento voluntário, responsável pela Campanha Brasil Sem Fome, distribuiu, em Machado, 2.500 cestas básicas. Em 2020, foram 6.500 cestas, e, pasmem: em 2021, até anteontem, haviam sido entregues 6 mil cestas básicas. As pessoas estão passando fome e tem concurso de embaixadinha online rolando. Total falta de sintonia com a realidade social de Machado.
Além de ações concretas [e, urgentes] de socorro emergencial às famílias mais vulneráveis de Machado, obrigação do Poder Público, os grandes produtores de grãos do Município precisam olhar com um pouco mais de sensibilidade. Os grandes problemas sociais podem ser evitados, quando a sociedade compreende o momento e antecipa suas ações. – O agravamento do fator social poderá ser uma das fagulhas que poderão ativar a violência social.
Em nível nacional, a Cufa (Central Única das Favelas) executa um trabalho magistral, servindo de ponte entre grandes empresas e marcas com as populações carentes.
As comunidades carentes são fruto, em parte, das desigualdades sociais de um país extremamente desigual. Todos os dias, há exemplos de muros que são erguidos entre brancos e negros. Pretos, em sua maioria, discriminados em situações mais grotescas possíveis.
Não! A favela [ainda] não venceu, apesar de ter se tornado verbete do dicionário de alguns políticos Brasil afora. O populismo político vem desde os tempos de Getúlio Vargas, no Estado Novo, passando por Jânio Quadros e a vassoura, que prometia varrer a corrupção.
As favelas, frutos da herança escravocrata do Brasil, se multiplicam. Muitas pessoas estão sendo jogadas sarjetas abaixo. São humilhadas das formas mais cruéis possíveis, com a fome e com a CEMIG, à porta de suas moradias, que cortam o fornecimento de energia elétrica. – Centenas de casas estão sem luz, hoje, em Machado.
Os negros escravizados, foram lançados como indigentes às margens da sociedade, após a abolição da escravidão. Mas, a escravidão só fora abolida, oficialmente, 64 anos depois que a Inglaterra, principal parceiro comercial do Brasil/Portugal, em 1825. – A Marinha Inglesa interceptou e chegou a naufragar navios negreiros portugueses, que insistiam em mão-de-obra escrava. Isto os livros de história adotados pelo Governo Federal, não abordam. – E, ainda hoje, há negros que acreditam que as cotas no ensino público não são necessárias. Essas pessoas, membros de uma espécie de feudos, acreditam que os afrodescendentes só podem ter direito ao ensino superior de qualidade por seus méritos. – ‘Meritocracia’, palavra em voga que não leva em conta que as linhas de LARGADA são distantes umas das outras.
O mundo real é bem diferente do virtual. Por isso, o machadense precisa discutir o presente para reprogramar o futuro. Reprogramar, pois, o caminho que vem sendo trilhado é preocupante.
NR. Editorial publicado sábado, dia 19/06/2021, no jornal FOLHA MACHADENSE.
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