A Bela Adormecida
Olga Caixeta
Colunista do Jornal FOLHA MACHADENSE
Os anos passaram e a vida continuou sem nenhuma agitação; a princesa fez quinze anos e como devia acontecer, dormiu por longo tempo até que um belo dia, um jovem e corajoso príncipe dirige-se ao seu quarto e descobre a mais bela jovem que nunca vira e, não resistindo, beija-a.
Nesse momento, ela acorda, e a vida recomeça com um casamento suntuoso que os levaria para uma vida feliz para sempre.
Não se alegrem, é só um conto de fadas bem antigo que fez muitas jovens dormirem no ponto e se deixarem levar por belas palavras e por doces beijos.
Ontem ela foi adormecida. Ela só tinha quinze anos. Hoje ela acordou. Deixou de sonhar? Não. Ela sonha com uma nova realidade.
“Vai ser coxo na vida” é maldição para homem; “mulher é desdobrável”, diz Adélia.
O sentimentalismo romântico, que carregou a figura da mulher durante séculos, está hoje, assistindo o seu final.
Em todos os tempos, a mulher, mesmo não concordando, aceitou viver um papel que não correspondia com seus anseios, porque a tradição machista lutava com veemência para fazer valer a sua palavra, a sua força.
Pouco a pouco, os próprios homens vão percebendo que um mundo de que a mulher está ausente é muito árido, muito solitário, sem sentido, sem calor. Ter uma mulher dentro de casa o dia inteiro, sem conhecer o lado de fora, as belezas e asperezas, é tirar dela a chance de se reconhecer como um ser social e sociável.
Não há dúvida de que a presença da mulher no mundo é a confirmação da possibilidade de todos, homens e mulheres, continuarem a nascer e, embora esta seja a mais simplista das afirmações, é bom lembrar a ambos, que quase sempre esquecem.
Como faríamos nós, mulheres, sem a força masculina que protege o nosso medo?
Como fariam eles, os homens, sem a força sensível que os impede de usarem a força bruta, intempestivamente?
Como faríamos nós, mulheres, sem esse caráter objetivo, definidor e arrojado que faz o homem correr sem limites?
Como fariam eles, os homens, se em toda a sua corrida de luta, não houvesse lá longe uma imagem feminina que os estivesse esperando?
Poderíamos criar dezenas de questões sobre o assunto e todas nos conduziriam sempre para a mesma resposta. Deus não criou o mundo para o homem ou para a mulher, mas para ambos, objetivando, além da procriação, uma convivência em que um e outro estariam se beneficiando e se entregando. E é isso que nós estamos querendo refletir aqui. Não basta saber que isso é uma verdade; é preciso fazê-la acontecer.
Não adianta criar uma delegacia de mulheres para resolver problemas alheios baseados na força. É necessário que homem e mulher criem dentro de si a responsabilidade de quererem ser e estar para construir. Quem constrói uma vida não quer uma vida infeliz; toda árvore nasce e cresce para dar flores e frutos. Assim é a vida.
Não usa a força aquele que a troca pela inteligência.
Não usa a força aquele que se reconhece humano.
Não usa a força aquele que é capaz de usar a palavra.
Palavra que nasce dentro do homem que nasce dentro de uma mulher.
Quando um homem deixa de usar a boa palavra para usar a força, ele está trocando o plano de Deus. O mundo precisa dos homens, precisa das mulheres, mas nunca dentro de uma arena se digladiando. O mundo precisa deles construindo um novo projeto.
É possível haver entre ambos os sexos, menos embate para que possa haver mais responsabilidade pela vida do outro?
Perguntas e mais perguntas, sem respostas. Cada um de nós pode pensar e responder só para si mesmo, pois a cada um interessa a resposta. E, com certeza, a resposta existe e está na palavra.
Dia 8 de março comemoramos o “Dia Internacional da Mulher”, e ficar remoendo fatos antigos como o que aconteceu nos Estados Unidos, há um tempo atrás, não nos ajudará a chegar a um ponto comum.
A nobreza de uma pessoa não está no seu gênero, mas na sua forma de ser e viver.
Pode parecer romântico, mas se homem e mulher não encontrarem uma razão para sua união que não seja essa forma antiga de pensar e ser, ficaremos a ver navios por muito tempo e, apenas uma palavra será justificativa para uma briga, para a desunião.
Repasso aqui um poema que parafraseei de Vítor Hugo, poeta francês, sobre o homem e a mulher. O dia é da mulher, mas ela sozinha é sem graça. Aliás, é a mulher a geradora da vida e ela nunca escolhe o que traz ao mundo. Um mundo de mulheres…? Será que alguma quer assim?
RELATIVISMO
“O Homem é a mais sublime das criaturas…” (V.Hugo)
O homem é o mais ousado das criaturas. A mulher é o mais perspicaz dos seres. A ousadia descobre; A perspicácia recupera.
O homem é um herói. A mulher a domadora. O herói corre; A domadora percorre.
O homem é o topo. A mulher, a base. O topo engrandece; a base segura.
O homem é a cabeça. A mulher os membros. A cabeça pensa; os membros envolvem. O homem é o sol. A mulher, o luar. O sol ilumina; o luar transfigura.
O homem é a parte. A mulher o todo. A parte depende; o todo compreende.
O homem é o lençol que cobre. A mulher, a cama que espera. O lençol protege; a cama acalenta.
O homem é o amanhecer do dia. A mulher, a noite que chega. O amanhecer esclarece; a noite invoca.
O homem é o batalhador da vida. A mulher é a geradora da vida. O homem ama a mulher; a mulher cria o homem.
O homem é criação divina. A mulher a divindade do homem. A Criação é algo que se faz do nada; a divindade é a luz.
O homem foi feito para a mulher. A mulher foi feita para o homem. O homem luta e vence; a mulher ama e une.
O homem é o ser da razão. A mulher a razão do ser. Ambos se encontram; nenhum se sobrepõe.
Parabéns a todas as mulheres machadenses!
Texto publicado no jornal FOLHA MACHADENSE, sábado, dia 06/03/2021.