quinta-feira, 24 de outubro de 2024

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EDITORIAL DA FOLHA: “POLÍTICA – a arte do diálogo”

POLÍTICA: a arte do diálogo

Edelson Borges da Silva
Diretor da FOLHA

Julbert apostou na estratégia do confronto e da tensão política. Imaginou ter o controle da situação nas suas mãos. Não o tinha! Imaginou ter a maioria na Câmara. – Errou!
Política não se faz com o fígado, e, sim, com o cérebro. Política se faz com o diálogo e com a arte de saber ouvir.

Ulysses Guimarães, ex-presidente da Assembleia Nacional  Constituinte de 1988, advogado e um dos principais opositores da Ditadura Militar, dizia: “não se pode fazer política com o fígado, conservando o rancor e ressentimentos na geladeira. A Pátria não é capanga de idiossincrasias pessoais. É indecoroso fazer política uterina, em benefício de filhos, irmãos e cunhados. O bom político costuma ser mau parente”.
Como o próprio Julbert admitiu, momentos antes da cassação, ao ficar no aguardo de um telefonema que não chegou com resposta positiva: “adotamos uma estratégia e levamos até o fim”. [Adotamos, e não, adotei, fora dito em referência à estratégia traçada ao lado dos advogados que o defendiam].
– Não deu certo! Toda estratégia deve ser montada em cima do campo de batalha que tem pela frente; deve ser ajustada com os elementos que têm em mãos. Estratégias devem ser debatidas com seus aliados. O núcleo de decisão de Julbert era muito restrito. Geralmente, eram postas de escanteio as pessoas que pensavam diferente.
Julbert perdeu a Câmara. – E, em se tratando de política e do direito de fiscalização [concedido pela população, aos vereadores, através do voto direto], o prefeito perdeu-se em argumentos fantasiosos e passou a atirar num inimigo invisível: a FEM (Fundação Educacional de Machado), que nada tinha a ver com o processo de cassação em curso na Câmara.

Um dia antes da sessão de julgamento, o prefeito fez distribuir “Nota de Esclarecimento” onde afirmava que o denunciante, vereador Clayton Nery, não teria conseguido sequer uma testemunha em favor dele. –Diante da ausência de documentos que precisariam ser enviados pelo chefe do Executivo, boletins de ocorrências lavrados pelos vereadores, caberia ao prefeito apresentar as provas. “A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”.
Desviou o foco para a Fundação Educacional de Machado, que não era alvo de qualquer denúncia invocada pela Câmara. A FEM não fazia parte das denúncias apresentadas à Comissão Processante. Esse tipo de manobra irritou, ainda mais, a Câmara, que sempre foi parceira da Administração e aprovou quase 500 Projetos de Leis ao longo dos últimos 3,8 anos. – Julbert está no poder, como prefeito, há seis anos; desde a morte de Carlos Alberto Pereira Dias.

Julbert, em “Nota de Esclarecimento”, afirma estar completando 90 dias de calvário. – Não! Não eram 90 dias de calvário, e, sim, em outubro próximo, completariam três anos de confronto com a Câmara. Cerca de 34 meses de dificuldades impostas ao acesso a documentos. Mais de 1 mil dias de ‘guerra’ nos bastidores. – Guerra que não foi iniciada pela Câmara, e, sim, proposta pelo prefeito Julbert Ferre, a partir do momento que pôs barreiras e dificuldades para que o principal órgão fiscalizador do Município, a Câmara, pudesse ter acesso a documentos e informações básicas.
Essa foi a estratégia adotada por Julbert Ferre: o confronto direto; o embate! E, num confronto político ou bélico, a escolha das armas não impede um lado e/ou outro de ser crivado de balas. E, quando perde-se aliados e a credibilidade política, o resultado é previsível.

Agora, dia 11 de agosto de 2020, o prefeito Julbert Ferre, num ato de desespero político, movimentou o Município, através de seus advogados, para ingressar com ações e representações criminais junto à Polícia Federal, à Receita Federal, à Procuradoria Regional da República, à Polícia Civil, ao Ministério Público Estadual (Procuradoria Especializada em Crimes Praticados por Agentes Políticos), e ao Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais contra vereadores, advogados da Câmara e pessoas que nada têm a ver com as denúncias que motivaram a Comissão Processante; e, contra professores e ex-gestores da Fundação Educacional de Machado. – Nítido sinal de revanchismo e desespero político.

A FOLHA, ao longo dos últimos meses, se pautou por uma cobertura séria e isenta sobre o caso. – Julbert, pelo contrário, se isolou: em momento algum respondeu às indagações do jornal. Ordenou que a Assessoria de Comunicação do Município e seus secretários boicotassem informações ao jornal em todas as áreas; inclusive, dados relacionados ao Coronavírus. [Simplesmente deixou de informar ao principal órgão de comunicação da cidade]. Rompeu contrato do Município com a FOLHA e passou a divulgar Informes Publicitários [que também merecem ser apurados pela Câmara] num veículo quinzenal, de uma cidade vizinha. – Ato que vinha se tornando rotineiro na gestão do prefeito Julbert Ferre.
Em seu desastroso pronunciamento, terça-feira, em meio ao julgamento da cassação de seu mandato, Julbert afirmou que fez veicular anúncios publicitários em emissoras de rádio e televisão de Poços de Caldas, por exemplo, porque tentava atrair para Machado uma fábrica de cervejas. [A cervejaria tem rótulo espanhol.] Tentou justificar, ainda, na Tribuna da Câmara, que as ações publicitárias em canais de comunicação de outros municípios eram para minimizar os efeitos negativos dos altos índices de violência em Machado. – “Queria limpar a imagem da cidade, com ações publicitárias e medidas concretas de enfrentamento à criminalidade”.
Julbert pensava deixar o mandato com aprovação superior à porcentagem de votos que teve na eleição há quatro anos [60% dos números totais], investiu em marketing regional [imaginando ser candidato a deputado] teve muitos acertos na lida com as famílias e pequenos produtores rurais, mas, incorreu em erros primários. Isolou-se, cercou-se por alguns com pouco contato e ‘trato’ com o povo, adotou posturas ‘ditatoriais’, passou a perseguir e desqualificar seus aliados de primeira hora. Traiu quem o ajudou a eleger; abandonou quem ajudou a construir sua imagem. [Em junho, a FOLHA publicou o Editorial: UM POLÍTICO IMATURO].

Ao tentar justificar [terça-feira, antes de ter o mandato cassado pelo Poder Legislativo] o motivo pelo qual trazia secretários de fora de Machado, para compor seu primeiro escalão, disse: “o Zhen deu zebra”. – Engenheiro Agrônomo, Luís Henrique Pimenta foi seu secretário de Governo, assessor especial e, por último, secretário de Agricultura. Carregou água na peneira para defender o ex-prefeito.

O prefeito, além de mencionar Zhen, também enumerou o nome de dois ex-prefeitos [um já falecido], quatro empresários [dois ligados a Carlos Alberto Pereira Dias: Zé Binho e Didi Tardiolli; e dois outros aliados do ex-prefeito José Miguel de Oliveira: José da Areia e Elias da Areia], falou sobre obras que assumiu a responsabilidade de tocar [não construídas em seu mandato; como a ETE] e citou nomes de pessoas ligadas ao Observatório Social de Machado e do ex-secretário de Saúde, Douglas Moreira. – Em seguida, teve o mandato cassado. [A FOLHA está ouvindo as pessoas citadas por Julbert, na Tribuna da Câmara, terça-feira passada. Suas versões serão publicadas na próxima edição.]

Político que deixou revelar, com o passar dos anos, seu estilo autoritário, Julbert afirmou, terça-feira, que jamais deixaria um grupo de empresários ‘ditar’ os rumos da sua Administração. – Por mais de uma vez, segundo fontes seguras, o prefeito teria dado murros na mesa, durante reuniões com secretários, para impor seu pensamento.
Não à toa, o ex-prefeito perdeu a governabilidade do mandato, junto à Câmara. Poder Legislativo, esse que o chefe do Executivo tratou, por meses, com desdém e descaso. Imaginou ser o Parlamento Municipal um ‘puxadinho’ da Prefeitura.
Caberá, agora, à vice-prefeita, Ana Maria Gonçalves, alçada à chefia do Executivo pelo Legislativo, dar respostas às questões ainda envoltas em fumaça, como a reforma do Terminal Rodoviário e outras perguntas levantadas pelo Relatório Final da Comissão Processante da Câmara de Vereadores. – A cassação de Julbert pode significar a ponta de um iceberg.

Ana Maria caminha sobre um fio de navalha. Ao mesmo tempo em que recebeu palavras de incentivo e apoio, por parte da maioria dos vereadores da Câmara Municipal, em sua posse, na noite de quarta-feira, dia 19, responde a ação junto ao Ministério Público, diante de denúncia de desvio de finalidade na distribuição de cestas básicas.

“Para conseguir estabilidade política e paz nos próximos meses frente à Prefeitura de Machado, Ana Maria, que seria sucessora natural de Julbert, terá que fazer uma grande ‘faxina’ no Executivo e mudar, radicalmente, o relacionamento institucional com a Câmara”.

E, como dizia o ex-governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto: “Política é como uma nuvem. Você olha ela está de um jeito. Olha de novo, e ela já mudou”.
Boa sorte à Ana Maria! E que os erros que pôde acompanhar de muito perto sirvam de exemplo para não os cometer novamente.

Colunista Edelson - Folha Machadense

Edelson Borges da Silva
Diretor-responsável pela FOLHA