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‘O maior passaporte da vida da mulher é ter o próprio dinheiro dela’, diz Luiza Brunet

‘O maior passaporte da vida da mulher é ter o próprio dinheiro dela’, diz Luiza Brunet
Yumi Kuwano

‘O maior passaporte da vida da mulher é ter o próprio dinheiro dela’, diz Luiza Brunet

A ativista, empresária , atriz e modelo Luiza Brunet esteve em Brasília nesta terça-feira (11) para participar da palestra ‘Empreendedorismo e Sucesso’ durante a III Conferência Distrital da Mulher Advogada da OAB/DF . Após o evento, Luiza concedeu uma entrevista exclusiva ao GPS Brasília sobre os temas discutidos no painel, carreira, empoderamento feminino e projetos futuros.

Você tem uma carreira extensa e de sucesso, mas vem de família humilde, já trabalhou inclusive como doméstica. Como foi que entrou nesse universo do empreendedorismo?

Eu comecei a trabalhar muito cedo, com 12 anos de idade, porque eu achava que era muito importante, mesmo sendo uma menina do interior do Mato Grosso, que vinha de uma vida muito simples, ganhar o meu dinheiro. E a vida inteira eu fui uma pessoa autônoma, economicamente e financeira estável, sempre fiz bons investimentos, procurei fazer coisas que me dessem uma segurança. Invisto em imóveis, por exemplo, desde muito jovem, porque eu acho que a estabilidade econômica ela te dá uma autonomia emocional muito importante para a mulher.

Em algum momento da sua carreira, você sentiu que precisava frear aquela coisa do ‘sex symbol’? Isso chegou a te atrapalhar em algum momento em alguma das áreas?

Chegou, porque quando eu comecei a trabalhar com o modelo no final da década de 1970, começo de 1980, a mulher era muito objetificada ainda. Não existia esses padrões que a gente tem hoje sobre assédio e tudo mais e eu fazia muita revista, inclusive de nu, porque existiam muitas revistas de nu naquela época, como a Playboy. Aí quando eu tive minha primeira filha e fiquei grávida em 1986, eu nunca mais pousei nu, por exemplo. Então as minhas escolhas de campanhas eram sempre muito objetivas. Eu não fazia campanhas que tivessem algum cunho de nudez, que vendesse bebida ou algo que não tivesse a ver com a coisa mais saudável e responsável. Então, eu fiz aquela mudança de paradigma e foi muito bom.

Na sua opinião, quais são os maiores desafios hoje no Brasil para a mulher empreendedora?

São muitos, a mulher ainda não ocupa o lugar que ela merece. Acho que as empresas precisam entender que o maior ativo que elas têm são as pessoas e que as mulheres são uma força motriz do trabalho no Brasil e elas precisam de apoio nas empresas, de uma ouvidoria. A mulher sofre uma violência seja física, emocional ou psicológica, e ela acaba não indo trabalhar, supostamente ela vai acabar sendo mandada embora porque não existe um protocolo de acolhimento dessas mulheres. Eu faço parte agora do Instituto ‘Nós Por Elas’ e a ABNT criou um protocolo para as empresas de centro de responsabilidade social, que inclui esse fortalecimento das mulheres. Ou seja, não é só oportunidade de emprego, mas também ter um espaço para ela falar das suas dores dentro do trabalho, que é o movimento Me Too, sobre o assédio moral e sexual no trabalho, onde ela pode falar com tranquilidade o que ela está sofrendo e também o que ela sofre dentro de casa. Essa compreensão é muito importante. Acho que a empresa tem que entender que a mulher é diferente, sofre mais, ela é muito mais competente, mas ela também sofre mais por essa questão da violência.

E com isso tudo funcionando, acaba sendo um fator também para o empoderamento, né?

Sem dúvida nenhuma, porque quando ela tem esse cuidado, ela se sente protegida, ela está se empoderando e compartilhando com outras mulheres também. Então, é importante que ela tenha o espaço de respeito que ela merece.

Qual dica você daria para uma mulher que quer começar a empreender?

Ter vontade de empreender e saber que o maior passaporte da vida da mulher é ela ter uma profissão, se qualificar, ter o próprio dinheiro dela, para ela poder ter uma série de outras autonomias. Isso não quer dizer que ela não vá sofrer violência no relacionamento, mas ela vai estar mais segura tendo a sua autonomia e podendo ser uma pessoa autônoma, que é o sonho de qualquer mulher.

Como foi para você conciliar a maternidade com a carreira, já que sempre foi tão ativa?

Eu sempre fui ativa, eu sempre quis ser mãe, acabei sendo mãe um pouco mais tarde, mas eu achava que o momento da maternidade para mim era algo extraordinário e divino. Então, eu tive um tempo muito maior de curtir uma gravidez saudável, de amamentar os meus filhos, fazer campanha de amamentação, motivar as mulheres a terem seus filhos de forma saudável, ser uma mãe presente. Ou seja, eu acho que a questão da maternidade de sempre foi pra mim muito importante e valorosa e eu eu criei os meus filhos de forma livre, eles são autônomos desde cedo, a Yasmin já morou fora do Brasil com 16 anos, sendo emancipada. Meu filho com 18, já foi morar com a namorada em outro estado. Dou todo o suporte, mas eu procuro fazer com que eles tenham essa autonomia e segurança de se virar sozinho. Sempre falo: eu não vou estar aqui para sempre, então vocês precisam andar com as suas próprias pernas. Só que eu repito o modelo que eu fiz também, na verdade, eu saí de casa muito cedo. Com 12 anos eu trabalhava fora de casa, com 16 anos eu casei. E era uma pessoa super autônoma, mas super responsável. Conhecia todos os defeitos e os meus direitos e andava dentro de uns preceitos de valores que para mim são importantes.

Fala um pouquinho dos seus projetos para o futuro.

Os meus projetos para o futuro é o que eu tenho feito nesses últimos anos, desde 2016. Que é me envolver profundamente na pauta feminina, participar desses eventos que é para mim é muito enobrecedor, ouvir mulheres especialistas. Eu falo como vítima de violência, eu falo como sociedade civil, eu já tive a oportunidade de fazer parte do corpo do CNJ, por exemplo, como sociedade civil, mas eu acho que é importante trazer uma especialista, seja advogada, uma especialista no assunto, com uma vítima também, acho que aí você consegue ter essa rede mais fortalecida, né, porque isoladamente a gente não consegue fazer. E o trabalho que eu mais gosto de fazer é realmente na ponta, onde a mulher sofre, nas comunidades mais carentes, onde as mulheres são mais vulneráveis. Eu estive já quatro vezes em Pacaraima, conversando com as mulheres e fazendo palestras para mulheres trans, travestis, gays, imigrantes venezuelanos que sofrem extremamente dentro desses lugares. Lá em Pacaraima eu já fui algumas vezes e pretendo voltar. E fora do Brasil o que eu mais faço são rodas de conversa com as mulheres, contar minha história, mas motivar para que elas contem as histórias delas também. São histórias que não são fáceis de ouvir para elas, não são fáceis de sair de dentro também, mas eu acho que nesse movimento a gente consegue agregar mais amor, mais esperança para elas e dizer para elas que qualquer violência que a gente sofre, a gente consegue dar a volta por cima e se reerguer, mas você precisa de ajuda, de apoio, e o apoio é de mulher para mulher.

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Fonte: Nacional