EDITORIAL
As várias faces do racismo no Brasil
Vítor da Silva (*)
Dados mostram a cada dia, e de forma incontestável, que o Brasil é um país profundamente racista. Uma pessoa negra é morta a cada 4 horas no país e 87% da população carcerária é composta de mulheres e homens negros. Números foram revelados em pesquisa recente, mostrada nesta semana que antecede o 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado, por enquanto, em algumas cidades e capitais brasileiras, já que a data, única que lembra uma celebridade considerada símbolo da resistência negra ao regime escravagista, Zumbi dos Palmares, ainda não mereceu ser transformada em feriado nacional.
Cenas terríveis e desumanas de prisão e ataques a mulheres e homens negros acontecem quase que diariamente por todo o país; a polícia prende pela cor da pele. Esta semana, uma policial branca foi flagrada chutando um jovem negro, quando seu dever era protegê-lo de agressões e ameaças de que está sendo vítima numa rua da capital paulista. As cenas foram registradas por câmeras de vigilância e vistas por milhares de pessoas. Crianças e adolescentes negros são mortos todos os dias por policiais em operações em comunidades pobres das grandes metrópoles, como Rio e São Paulo. Os últimos acontecimentos praticados por policiais contra os redutos mais pobres de Salvador, na Bahia, são testemunho do desprezo com que é tratada a população negra, por ironia, a mais numerosa deste país – 56,1%. Bahia, onde a população negra é a imensa maioria, 87%, até lá, o porcentual de homens e mulheres negras que sofrem violência policial extrapola o razoável. Afinal, que formação os policiais brasileiros recebem para agir de forma tão agressiva e determinada contra pessoas negras?
A discriminação racial no Brasil está longe de acabar; foram três séculos e meio de exploração da mão de obra escrava, uma dívida social que jamais foi reparada pelos exploradores da terra durante seguidas décadas. Ao contrário, existe um silencioso e persistente movimento para apagar a história deixada pelos negros nas terras onde foram escravizados. As marcas, entretanto, não deixam a história mentir. Foi graças à exploração da mão de obra escrava que surgiram os grandes latifúndios, as grandes fazendas.
Os negros escravizados, tanto homens como mulheres, detinham conhecimentos de práticas agrícolas, construção, mineração, fundição, além de suas variadas habilidades na culinária e na música. Foram importantes na exploração do ouro, na plantação e colheita de cereais e grãos, dentre eles, o café, o arroz, o feijão, o milho. Tudo isso, no entanto, é negado em livros de história, revistas, como se esse progresso só tivesse ocorrido após a chegada das primeiras imigrações italianas no final do século XIX e início do século XX. Uma clara e maldosa tentativa de apagar a história de um povo que, como os indígenas, preservam e guardam as palavras de seus antepassados e as transmitem às movas gerações porque são cheias de ensinamentos.
O Brasil não irá, por certo, em tão pouco tempo, resgatar essa dívida social que o país tem com o povo negro, raiz e causa de tantos conflitos e pobreza enfrentada por tantas gerações, mas poderás minimizar seus maléficos efeitos, através de políticas públicas, como já fez e vem fazendo o atual Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cotas para negros na universidade, em concursos públicos, na distribuição de cargos de chefia nos órgãos públicos, programas de bolsas de estudos para estudantes de baixa renda e maciço apoio à educação pública e às atividades culturais, como vem ocorrendo. Só assim, este país tão rico, mas tão desigual poderá se tornar mais justo, com oportunidades iguais para todos e todas.
SALVE O 20 DE NOVEMBRO – DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA!
(*) Professor Especialista em Literatura Brasileira. Cofundador do jornal Folha Machadense. Cofundador do Instituto Machadense de Artes e Ciências-IMAC